terça-feira, 14 de maio de 2013

NEUROTUDO OU: O CÉREBRO MENTE?


(...) Sofisticou-se o linguajar, especificou-se o diagnóstico: agora sofremos de alguma síndrome (do pânico, a mais comum), da falta (ou excesso) de dopamina, de disfunções que nem de nome conhecíamos até algum tempo atrás. Fala-se em neurônio, sinapse e córtex pré-frontal quase com a mesma intimidade com que desde sempre nos referimos às artérias e ao esôfago. Não precisamos esperar que glia, dendrito e axônio caiam na boca do povo para reconhecer, penhorados, que a popularização da neurociência ampliou tremendamente nossa cultura biológica.O preço pago por esse enriquecimento vocabular e patológico foi alto demais. Como o marxismo, o freudianismo, a Teoria Crítica e outras visões totalizantes, a neurociência virou o século submetida a abusivas simplificações e aplicações levianas. Vulgarizada para consumo e consolo das massas, a neurociência pop tornou-se uma pestilência intelectual, um engana-trouxa de jaleco a oferecer ensinamentos, no mínimo, discutíveis sobre certas funções orgânicas e determinados processos mentais e soluções para uma infinidade de problemas - dos cognitivos aos emocionais, dos políticos aos econômicosSe ainda não ouviu falar em neuroeconomia, neuropolítica, neuroteologia, neurogastronomia, neurocrítica literária, neurodireito, neuroestética, neuromagia, neuromarketing, prepare-se. São o que você imagina, e igualmente dotadas de impositivas imagens por ressonância magnética ou de tomografia axial computadorizada. Como resistir à impressionante visão de um cérebro com aquelas manchas vermelhas, amarelas e verdes excitadas por impulsos nervosos?
(...)
Sérgio Augusto - publicado em 31.12.2012 no Estadão















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