quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CONSCIÊNCIA PESADA

(...)  O conceito de CONSCIÊNCIA serve à concepção  médica baseada nas estruturas cerebrais. O que não é um erro, e sim um "recorte" dos processos subjetivos. A psiquiatria trata da mente conforme  o corpo físico-químico. Institui o cérebro como o “corpo  mental”, dando origem a um novo dualismo: cérebro/mente e corpo (organismo). Uma clínica da diferença põe em questão  essa ótica.  Quadros de dissociação  histérica  há mais  de  cem anos  foram descritos por  Freud. A consciência  se altera. Além disso, várias outras situações clínicas podem modificar o nível da consciência sem que haja lesão cerebral demonstrável. A angústia, quando muito intensa, também pode levar o paciente a alterações do nível da consciência. Em sessões de psicoterapia,  na vivência  de certas técnicas, a consciência  pode se modificar, facilitando o trabalho terapêutico na pesquisa de respostas e efeitos sobre o psiquismo.  Isso também é válido  para a clínica psicanalítica. Há momentos da transferência em que a consciência muda.No psicodrama, na catarse de integração e/ou no desempenho de certos papéis, conforme a espontaneidade criativa, algo acontece para além da consciência. Há mil outros exemplos... Extraindo consequências do pensamento  de Bergson, a consciência  não apenas  é uma  tela, mas uma tela opaca e frágil. Não explica nada, ao contrário, deve ser explicada. Ajuda a sustentar os comportamentos padronizados do cotidiano, a recitar identidades, a estabelecer pautas mínimas de comunicação interpessoal,  mas, nos termos de uma pensamento da imanência (não representativo) ela não responde pelo devir, nem pela questão da luz, da matéria e do movimento. Limita-se a nos proteger do caos, instilando opiniões para um equilíbrio mental acerca da realidade do mundo, mas esconde linhas de  vida  indizíveis e/ou que buscam se expressar. Enfim,  é  uma  espécie  de entrave operacional e conceitual a uma clínica dos processos de singularização (do Encontro), onde e quando a produtividade do desejo segue caminhos imprevisíveis. 
(...)
A.M.. in Trair a Psiquiatria

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