quarta-feira, 17 de junho de 2015

MATAR, MATAR

Rogério Silva dos Santos, de 29 anos, havia acabado de fazer uma cirurgia para tirar o dente do ciso. No almoço de Dia das Mães, arriscou comer um pedaço de carne, mas rompeu os pontos e se irritou com a dor na gengiva. Era dia 15 de maio de 2006, ele deu um beijo na mãe e resolveu ir embora. Durante a noite, quando a dor se tornou insuportável, ele saiu para buscar um remédio, mas não voltou. Foi baleado, em circunstâncias até hoje não totalmente esclarecidas, na periferia de Santos, no litoral de São Paulo.

Rogério foi um dos 320.000 negros vítimas de armas de fogo entre 2003 e 2012. Faz parte das estatísticas que comprovam que  os homicídios cometidos à bala no país tem cor, idade e sexo. Se, por um lado, o número de pessoas brancas mortas por arma de fogo caiu 23% entre 2003 e 2012 (de 14,5 mortes por 100.000 habitantes para 11,8), a quantidade de vítimas negras aumentou 14,1% no mesmo período: de 24,9 para 28,5. Apenas em 2012 morreram 2,5 mais negros do que brancos. Os dados são do novo Mapa da Violência 2015, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo, que será lançado neste mês.

“Esse acréscimo de mortes entre os negros é lamentável, mas não surpreende”, afirma Martim Sampaio, coordenador da comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil). “As vítimas preferenciais da violência, chacinas e violações cometidas por agentes da lei são as populações pobres, negras e periféricas”, diz. Para o advogado, existe um “genocídio” contra essa parcela da sociedade.

Segundo Martim,esses dados desmentem o “mito da democracia racial” no Brasil. “Essa população [negra], apesar de numerosa, é invisível. Se fossem jovens brancos, essas taxas de homicídio provocariam reações fortíssimas”
(...)
Gil Alessy, São Paulo,13/05/2015,15:39 hs

2 comentários:

  1. Mais do Mesmo.

    É a Máquina, na sua face mais torpe, através do seu braço mais sujo, limpando suas estruturas daquilo que não conseguiu eliminar com a antecedência necessária... No fim, estes corpos viram números, reduzimo-os às estatísticas, que não valem nada, pois se repetem: diminuímos a mortalidade infantil, mas na verdade, prolongamos o sofrimento de sujeitos que, historicamente marginalizados, não tem outro caminho senão um caixão de compensado sob uma vala rasa. Este silenciamento é ensurdecedor.

    Desde a Colônia, cadeia e bala formam o alicerce da política pública mais eficaz que o Estado consegue manter para atender os interesses dos sangue azul.

    É o sangue negro, indígena, trans, diferente, que lava o país, enquanto o hétero, branco e rico brada por deus, família e propriedade.

    O inferno é aqui.

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