quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A  DOENÇA  DO  PODER

Usando Elias Canneti no livro “Massa e Poder, 1960”, é possível identificar a “doença” do poder: a paranóia. Há sempre, de fato, na medida e no fulcro das correlações de forças, uma circulação de desconfiança a priori, um incentivo ao medo, à fobia, uma expectativa angustiante, um pânico frente à desordem, enfim, a grande suspeita contida numa peça sem autoria e, daí, sem sujeito. Quem é o poder? A paranóia não é individual, e sim coletiva, mesmo que surja em alguém isolado. Há regimes significantes eternizados como suplícios dos dominados. Esta parece ser a regra que a História timbrou, ou finge que. Pode ser o rei, o presidente, o príncipe,o  governador, o chefe de estado, o prefeito, figuras de autoridade, talvez, pior, Deus, o poderoso... O que importa é que eles se inserem em modos de subjetivação como verdades dadas e contabilizadas, a depender, claro, dos rumos da política. Qualquer um pode ser qualquer um, todos são todos, desde que o poder funcione como maquinaria produtora  de um gosto por viver e que se nutra de linhas institucionais cambiantes. Desconfia-se de todos e vice-versa; instala-se o clima necessário para dizer e sentir “eu posso tudo”. “Aguirre, a Cólera dos Deuses, 1972”, o filme de  W.Herzog, ilustra bem o liame poder-paranóia como delírio do infinito: a sequência final é emblemática. Assim, é possível “roubar” da psiquiatria o sistema da paranóia como lógica persecutória que funciona no território movediço dos afetos políticos. O poder produz isso, alimenta-se de mil produções subjetivas, delira, delira. A contrapartida à tal vivência persecutória seria, pois, a traição à ordem instituída:  expressões novas e múltiplas da passagem do tempo. A irreversibilidade em ato.

A.M.

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