FAZER RIZOMA
(...) Diferente é o rizoma, mapa e não decalque. Fazer o mapa, não o
decalque. A orquídea não reproduz o decalque da vespa, ela compõe um
mapa com a vespa no seio de um rizoma. Se o mapa se opõe ao decalque é
por estar inteiramente voltado para uma experimentação ancorada no real. O
mapa não reproduz um inconsciente fechado sobre ele mesmo, ele o
constrói. Ele contribui para a conexão dos campos, para o desbloqueio dos
corpos sem órgãos, para sua abertura máxima sobre um plano de
consistência. Ele faz parte do rizoma. O mapa é aberto, é conectável em
todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber
modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a
montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo,
uma formação social. Pode-se desenhá-lo numa parede, concebê-lo como
obra de arte, construí-lo como uma ação política ou como uma meditação.
Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de ter
sempre múltiplas entradas; a toca, neste sentido, é um rizoma animal, e
comporta às vezes uma nítida distinção entre linha de fuga como corredor de
deslocamento e os estratos de reserva ou de habitação (cf. por exemplo, a
lontra). Um mapa tem múltiplas entradas contrariamente ao decalque que
volta sempre "ao mesmo". Um mapa é uma questão de performance,
enquanto que o decalque remete sempre a uma presumida "competência".
Ao contrário da psicanálise, da competência psicanalítica, que achata cada
desejo e enunciado sobre um eixo genético ou uma estrutura
sobrecodificante e que produz ao infinito monótonos decalques dos estágios
sobre este eixo ou dos constituintes nesta estrutura, a esquizoanálise recusa
toda idéia de fatalidade decalcada, seja qual for o nome que se lhe dê, divina,
anagógica, histórica, econômica, estrutural, hereditária ou sintagmática.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário