quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

HÁ SÓ PRODUÇÃO

Não há nenhum processo físico, biológico ou antropológico que não esteja mediado por signos. Toda cultura, por sua vez, resulta de uma certa estratificação semiótica ordenadora de comportamentos pessoais e coletivos. As subjetividades, igualmente, se constituem a partir de processos antropossemióticos sem os quais nenhum indivíduo poderia reconhecer-se como sujeito ou agir com autonomia.
Se reduzirmos a subjetividade à sua dimensão mais abstrata, chegaremos a matérias e funções organizadas como substâncias e formas sob regimes de signos. Esta compreensão formulada por Gilles Deleuze e Félix Guattari enfatiza a historicidade inerente a cada subjetividade, considerando o movimento de constituição de identidades e singularidades a partir de múltiplas relações, fluxos e agenciamentos mediados por signos - movimento que se caracteriza como produção de subjetividades.
Se reduzirmos um corpo a seu elemento mais simples chegamos à sua materialidade organizada sob um jogo de funções. Essa funções todas, organicamente, conformam o corpo. Tem-se portanto diversos órgãos e aparelhos que se articulam entre si. Trata-se pois de uma matéria ordenada nesse conjunto de funções. Mas somente isso não estrutura uma subjetividade. Essas matérias e funções são ordenadas a partir de regimes de signos. Em nível de biossemiose, tem-se como signos ordenadores, os códigos genéticos; em nível de zoosemiose tem-se os signos que - sob linguagens sinalizadoras e expressivas - organizam a vida dos grupos de animais possibilitando a sua sobrevivência e reprodução. Contudo, se considerarmos o nível da antropossemiose, veremos que inúmeras funções do organismo são de algum modo modelizadas pelos diversos signos das culturas humanas. O modo de comer, de vestir, de se reproduzir, enfim, de realizar todas as atividades necessárias à existência e convivência humanas é semioticamente organizado. Assim, quando se fala em subjetividade há que se pensar nesse conjunto de matérias e funções - nesse conjunto das necessidades orgânicas - e por outro lado nas dimensões da cultura - nos diversos códigos socialmente ordenadores - que, de algum modo, modelizam o corpo; neste processo estruturam-se as subjetividades.
(...)
Euclides Andre Mance in O capitalismo Atual e a Produção de Subjetividade, 1998

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