domingo, 28 de fevereiro de 2016

POESIA

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo. 
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Muita linda essa poesia!
    A poesia deste momento também inunda minha vida inteira. O corpo da alegria não pode ser descrito em verso. Essa é uma sensação pessoal que a pena não pode escrever. É “inescrevível”. Talvez possa dimensioná-la, um pouco, por meio de uma história que consta do texto “A função da arte/1”
    Eis a história:
    Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
    Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas da areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente dos seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
    E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!
    Então, é mais ou menos assim que se sente quando os labirintos inconscientes são desbravados. É uma sensação tão mágica, que a imagino, comparativamente, à Diego ao ver o mar.


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