segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

TUDO É SOCIAL

Passemos à algumas observações sobre a personalidade tipo anti-social, antigamente chamado de "psicopata" ou "sociopata". Este paciente só pode (ou deveria) ser diagnosticado na medida em que se estude com detalhes a sua história de vida. Nenhum  perfil pode descrever com exatidão  tal  variedade de atributos. É essencial destacar o fato de que ele  passaria desapercebido (como entidade clínica) sem a psiquiatria. Isso significa um empreendimento de psiquiatrização   corporificado  naquele que viola a lei ou apenas a ameaça. A base moral se desdobra numa  aproximação com a criminalidade e a delinquência. Daí a pecha de irrecuperável e inimigo da sociedade, tal como o nome  indica. Encontrar esse paciente não requer o uso de máquinas de julgar e  fotografar num dispositivo de perguntas  ao modo do  interrogatório policial. Durante a entrevista  os seus afetos são de difícil avaliação, tal como na esquizofrenia.No entanto, o que prevalece é a história, seja dita pelo próprio, ou por terceiros. Afetos, fantasias e crenças podem ser  insondáveis, mas as condutas ficam  expostas. O anti-social é um paciente sobre o qual incidem várias instituições. A trajetória clínica compõe variáveis ligadas a essas instituições. Qual o status social? É um dado relevante. Há pacientes que em função de certas inserções sociais, vivem com traços de caráter encobertos por ações que executam, por exemplo,no universo da política brasileira. Outros, menos beneficiados pela sorte, são expulsos de casa,  escorraçados, demitidos, segregados, às vezes acabando na sarjeta. Alguns se “dão bem”. Outros , nem tanto. Este fato ilustra  a imbricação do anti-social com a sociedade. Dito de outro modo: é impossível a pesquisa do conceito de transtorno da personalidade anti-social sem uma análise sócio-histórica do caso.Além disso, as ações terapêuticas (se é que há) terão  que seguir eixos psicossociais, considerando vetores etiológicos produtivos.
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A.M. in Trair a psiquiatria

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