TUDO É SOCIAL
Passemos à algumas observações sobre a personalidade tipo anti-social, antigamente chamado de "psicopata" ou "sociopata". Este paciente só pode (ou
deveria) ser diagnosticado na medida em que se estude com detalhes a sua história de vida. Nenhum perfil pode descrever com exatidão tal
variedade de atributos. É
essencial destacar o fato de que ele
passaria desapercebido (como entidade clínica) sem a psiquiatria. Isso
significa um empreendimento de psiquiatrização
corporificado naquele que viola a lei ou apenas a ameaça. A
base moral se desdobra numa aproximação com a criminalidade e a delinquência. Daí a pecha de irrecuperável e inimigo da
sociedade, tal como o nome indica. Encontrar esse paciente não requer o uso de máquinas de julgar e fotografar num dispositivo de perguntas ao
modo do interrogatório policial. Durante a entrevista os seus afetos são de difícil avaliação, tal
como na esquizofrenia.No entanto, o que prevalece é a história, seja dita pelo próprio, ou por terceiros. Afetos, fantasias e crenças podem ser insondáveis, mas as condutas ficam expostas. O anti-social é um paciente sobre
o qual incidem várias instituições. A trajetória clínica compõe variáveis ligadas a essas instituições. Qual o status social? É um dado relevante. Há pacientes que em função
de certas inserções sociais, vivem com traços de caráter encobertos por ações que executam, por exemplo,no
universo da política brasileira. Outros,
menos beneficiados pela sorte, são expulsos de casa, escorraçados, demitidos,
segregados, às vezes acabando na
sarjeta. Alguns se “dão bem”. Outros , nem tanto. Este fato ilustra a imbricação do anti-social com a sociedade.
Dito de outro modo: é impossível a
pesquisa do conceito de transtorno da personalidade anti-social sem uma análise sócio-histórica do caso.Além
disso, as ações terapêuticas (se é que há) terão que seguir eixos psicossociais,
considerando vetores etiológicos produtivos.
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria
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