sábado, 27 de fevereiro de 2016

O MEDO À LOUCURA

Em psiquiatria clínica, o signo "agitação psicomotora" encerra em si mesmo grande parte da carga preconceituosa e estigmatizadora sobre o chamado louco e a correlata rostificação psiquiátrica estabelecida ao longo do século XIX. Isso veio da Europa e tornou-se um signo-sintoma como conduta violenta ou pelo menos agressiva, destrutiva, constrangedora do paciente em relação aos que estão ou ao que está à sua volta: pessoas e coisas.Ora, a agitação psicotomora é um sintoma de várias patologias. Para melhor acessá-las e tratá-las num instante de emergência, por exemplo, há que contextualizá-las, ou seja, considerar o meio socio-institucional onde se expressam. O paciente agitou-se na sua casa, num hospital psiquiátrico, num espaço público, num Caps, e outros? Quem estava com ele? Fazendo o que? Quais as relações implicadas? É essencial separar o que é a violência reativa às condições sociais de vida (muitas vezes também violentas) da violência "patológica", entendendo esse termo como o que não encontra de pronto uma causa objetiva verificável: "passou a agredir do nada". Ocorre que esse "nada" pode ser "tudo" que não sabemos explicar e que acontece a partir de sensibilidades não cadastradas pelo senso comum da consciência normativa. Enumerar as patologias-causa de uma agitação psicomotora fica para outro texto. Por ora, nos parece mais importante trazer uma visão crítica da clínica antes de tentar fazê-la.

A.M.

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