ISSO VAZA
Existe um universo que escapa à percepção simples. É outra coisa, outro registro de vivência. Não se trata de algo transcendente ou sobrenatural, nem de algo latente (a "outra cena" da psicanálise) mas de linhas abstratas (sem forma) roçando as sensações, e, portanto, o corpo; encontro de corpos, fusão de corpos (humanos e inumanos) tais linhas operam nos insterstícios do cotidiano "necessário". Há, pois, um vazamento na repetição do mesmo, torcendo a força do hábito em prol de uma condição para a diferença. Tal sensibilidade é comumente exercida por artistas, poetas, crianças, loucos e outros personagens sociais que vivem na contra-corrente do tempo medido, tempo fora do registro de cronos. Cursa numa espécie de processo sócio-metafísico não identitário. Poderá ser, via senso comum, confundida com desordens mentais ou similares, já que incomoda e constrange o que está à volta. Na realidade são micro-potências funcionando em desacordo com a normalidade, composições de desejo explicitadas em mil maneiras de fazer o tempo, desde as mais simples até as complexidades subjetivas (dobras da alma). De todo modo, o padrão tecnológico dos tempos atuais, investido em operações asfixiantes de controle social, fez e faz por restringir o tempo singular das paixões, da poesia e da arte ao tempo da verdade útil, contábil e programática. Como resistir?
A.M.
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