NATUREZA NATURAL
(...) (...) o livro não é a imagem do
mundo segundo uma crença enraizada. Ele faz rizoma com o mundo, há
evolução a-paralela do livro e do mundo, o livro assegura a
desterritorialização do mundo, mas o mundo opera uma reterritorialização do
livro, que se desterritorializa por sua vez em si mesmo no mundo (se ele é
disto capaz e se ele pode). O mimetismo é um conceito muito ruim,
dependente de uma lógica binária, para fenômenos de natureza inteiramente
diferente. O crocodilo não reproduz um tronco de árvore assim como o
camaleão não reproduz as cores de sua vizinhança. A Pantera Cor-de-rosa
nada imita, nada reproduz; ela pinta o mundo com sua cor, rosa sobre rosa, é
o seu devir-mundo, de forma a tornar-se ela mesma imperceptível, ela
mesma a-significante, fazendo sua ruptura, sua linha de fuga, levando até o
fim sua "evolução a-paralela". Sabedoria das plantas: inclusive quando elas
são de raízes, há sempre um fora onde elas fazem rizoma com algo — com o
vento, com um animal, com o homem (e também um aspecto pelo qual os
próprios animais fazem rizoma, e os homens etc.) "A embriaguez como
irrupção triunfal da planta em nós". Seguir sempre o rizoma por ruptura,
alongar, prolongar, revezar a linha de fuga, fazê-la variar, até produzir a
linha mais abstrata e a mais tortuosa, com n dimensões, com direções
rompidas. Conjugar os fluxos desterritorializados. Seguir as plantas:
começando por fixar os limites de uma primeira linha segundo círculos de
convergência ao redor de singularidades sucessivas; depois, observando-se,
no interior desta linha, novos círculos de convergência se estabelecem com
novos pontos situados fora dos limites e em outras direções. Escrever, fazer
rizoma, aumentar seu território por desterritorialização, estender a linha de
fuga até o ponto em que ela cubra todo o plano de consistência em uma
máquina abstrata. "Primeiro, caminhe até tua primeira planta e lá observe
atentamente como escoa a água de torrente a partir deste ponto. A chuva
deve ter transportado os grãos para longe. Siga as valas que a água escavou,
e assim conhecerá a direção do escoamento. Busque então a planta que,
nesta direção, encontra-se o mais afastado da tua. Todas aquelas que crescem
entre estas duas são para ti. Mais tarde, quando esta últimas derem por sua
vez grãos, tu poderás, seguindo o curso das águas, a partir de cada uma
destas plantas, aumentar teu território ". A música nunca deixou de fazer
passar suas linhas de fuga, como outras tantas "multiplicidades de
transformação", mesmo revertendo seus próprios códigos, os que a
estruturam ou a arborificam; por isto a forma musical, até em suas rupturas e
proliferações, é comparável à erva daninha, um rizoma.
(...)
Giiles Deleuze e Félix Guattari in Mil platôs, vol 1
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