Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
sábado, 30 de setembro de 2017
A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.
(...)
Aldous Huxley
NÃO É O MESSIAS
Até agora, sem uma defesa técnica convincente, Lula vinha enfrentando seu calvário criminal acorrentado ao enredo-procissão. Nele, a divindade percorre sua via-crúcis, cabendo aos devotos gritar “amém” e denunciar os ímpios que tentam crucificar o político mais honesto que o espelho já conheceu. Mas a conversão do discípulo Antonio Palocci à Lava Jato fez de Lula uma espécie de virtude com os glúteos expostos na vitrine.
A decomposição da imagem de Lula atingiu um estágio inédito. O imaculado do PT conseguira atravessar o mensalão sem amarrotar o terno. Depois que a soma das denúncias acomodadas sobre seus ombros chegou à marca de nove, Lula perdeu o paletó e a camisa. Quando sete dessas denúncias foram convertidas em ações penais, ele ficou sem as calças.
A pena de nove anos e meio de cadeia imposta por Sergio Moro deixou Lula sem cueca. Mas aguardava no fundo da loja pelo julgamento do recurso no TRF-4. Os glúteos da virtude foram à vitrine por duas razões. Uma é a devastadora carta em que Antonio Palocci se desfiliou do PT com a seguinte pergunta: “Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade.” Outra é a incapacidade de Lula de demonstrar a honestidade que até o ex-discípulo é incapaz de reconhecer.
Medida por seus autocritérios, a virtude de Lula é tão exagerada que, em vez de favorecer, pode aniquilar. Há tantos “mentirosos” contestando Lula que o beato do PT vai se transformando num personagem inacreditável. Os delatores da Odebrecht confirmam a propina. O “laranja” que assumiu o apartamento de São Bernardo desmente a fábula do aluguel. A herdeira do imóvel informa ao fisco vendeu imaginando que Lula era o comprador.
Contra esse pano de fundo, Palocci atirou interrogações mortais. Como essa: “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto são atribuídosa dona Marisa?”
O contrário do antilulismo que o PT supõe existir é o pró-lulismo que o PT gostaria que existisse. Tal sentimento, para sobreviver, exige a aceitação de todas as presunções de Lula a seu próprio respeito. Algo que só seria possível com a aceitação da tese segundo a qual Lula de fato tem uma missão especial no mundo, de inspiração divina e, portanto, inquestionável.
Se Lula reconhecer que também está sujeito à condição humana, pode sair da vitrine. Se seus advogados pararem de atacar investigadores e magistrados para levar meio quilo de explicações à balança, Lula pode recuperar o paletó. Se a defesa parar de utilizar Marisa Letícia como álibi de todas as culpas, o marido talvez consiga reaver a cueca.
Quanto às calças, não será fácil ter de volta. A coisa seria simples se os ataques de Palocci tivessem transformado Lula num político igual a todos os outros. Mas foi pior do que isso. A descompostura companheira tornou Lula um personagem completamente diferente de si mesmo —ou da divindade que ele imaginava ser.
Do Blog do Josias de Souza, 30/09/2017, 07:07 hs
ATAQUES MISTERIOSOS
A reabertura da Embaixada dos Estados Unidos em Cuba, o passo histórico de julho de 2015, grande símbolo da aproximação entre dois velhos inimigos, é por enquanto a história de um fracasso. O Departamento de Estado decidiu retirar da delegação todo o pessoal não essencial e suas famílias após uma série de misteriosos ataques, supostamente de origem sônica, que afetaram 21 diplomatas, em alguns casos muito gravemente, chegando a causar lesões cerebrais e perda da audição. Segundo a Associated Press, 60% do pessoal sairá do país. Os funcionários que permanecerão na ilha também deixarão de emitir vistos.
O caso contém os ingredientes próprios das crises da Guerra Fria, com mistério, espiões e ataques dissimulados. Entre novembro de 2016 e o primeiro semestre de 2017, diplomatas estadunidenses e canadenses começaram a sofrer as consequências do que se acredita que foram ataques acústicos de origem desconhecida junto com suas famílias, alojadas majoritariamente em moradias fornecidas pelo Governo cubano, apesar de um caso ter ocorrido em um hotel. Os enjoos, dores de cabeça e problemas de visão foram alguns dos primeiros sintomas.
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Amanda Mars, El País, Washington, 29/09/2017, 16:16 hs
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO: CRÍTICA E CLÍNICA
Há muitos diagnósticos em psiquiatria. Eles buscam conhecer o que se passa com o paciente. Este é, pelo menos, o discurso do humanismo científico, sempre interessado em promover a melhora, o alívio dos sintomas e, se possível, a cura do paciente.
Contudo, a prática clínica mostra que o diagnóstico psiquiátrico é, antes, uma palavra de ordem, pela qual e na qual o efeito-psiquiatria cola no paciente. Neste sentido, a relação dita terapêutica se constitui como um invólucro dos poderes que lhe dão um suporte de verdade. O ato médico-psiquiátrico é encharcado de moral e de compromissos micro-políticos (não explícitos) com a Ordem Estabelecida. Sendo assim, o diagnóstico não é um ato puro de cognição do Outro, ou seja, não busca, em princípio, reconhecer e conhecer o Outro para tratá-lo com técnicas científicas. Então, o que busca?
O controle.
Tudo parte do significado que é conferido à loucura. Conotada à fabricação da doença mental ao longo do século XIX , ela é hoje o des-controle do sistema cérebro/mente (e tudo que isso implica) tomando-o como lesionado. Grosso modo, é esta a neuro-concepção que embasa os trabalhos da psiquiatria dita biológica. Os diagnósticos se sucedem na esteira de um esquematismo cidológico totalitário. Duas questões, no entanto, se impõem : 1-qual a etiologia (como aparelho teórico) dos transtornos mentais? 2-a quem servem os diagnósticos, dispondo de tão extraordinária variedade semiológica?
Na borda da ideia de loucura, a nossa referência é a clínica, ou seja, o Encontro com o paciente. Etiologia e diagnóstico aí estão presentes apenas como referência de uma verdade pontual, relativa e fragmentária. Ora, se a etiologia da psiquiatria biológica é reducionista e o diagnóstico é focado apenas nos sintomas, o remédio químico irá tamponar a riqueza vivencial do paciente.
Crítica ao diagnóstico psiquiátrico? Sim, pois ele é pseudo-etiológico ou escancaradamente sintomático (não-etiológico). E qual a clínica? Ah, outras clínicas (usando a ciência, a filosofia e a arte) em contextos e conexões singulares. No fundo, a loucura assombra o olhar da razão médica, e por isso é referência-base para outras clínicas. Quais? Ao fim do ato de inventá-las saberemos. Antes, impossível.
A.M.
MESMO SACO
Embora não tenha havido discussão formal na bancada petista, senadores da legenda estão dispostos a sair em defesa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) caso o plenário aprecie o afastamento do tucano. Não são esperadas declarações públicas, mas empenho nos bastidores.
Na quarta-feira (27), o STF determinou o afastamento de Aécio.
Nonato Viegas, Época, 27/09/2017, 16:12 hs
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
LOUCURA COMO MÉTODO
Propomos um descentramento radical em relação à medicina psiquiátrica. Desse modo, a “loucura” torna-se um objeto de pesquisa exatamente porque ela não é um objeto médico, não faz parte do universo médico. Começamos por defini-la em meio a todas as dificuldades práticas e epistemológicas em torno. Loucura é a experiência do sem-sentido, do não-sentido que se expressa como sentido. É o acontecimento nos termos colocados por Deleuze. Clinicamente é o desamparo do eu, a exclusão do eu como princípio ordenador da experiência do paciente no mundo. O dito psicótico traz isso, nos diz isso, e só assim poderemos pensá-lo. O conceito de loucura é um objeto de investigação voltado à criação de problemas mais do que a resolução dos mesmos. Tanto melhor se isso produzir um efeito de sentido na clínica tradicional. A subjetividade não existe. Há só modos de subjetivação.
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A.M.
Como os anos passam depressa!
Que fizeste durante esse tempo?
Chegaste realmente a viver ou não?
Que frio faz neste mundo, basta que passem mais uns anos para que chegue a espantosa solidão, a trémula velhice que traz consigo a tristeza e a dor. O teu mundo fantástico há de perder então as suas cores, murcharão e morrerão os teus sonhos, e como as folhas amarelas que tombam das árvores, também eles se desprenderão de ti.
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Fiódor Dostoiévski
QUAL MÉTODO
O que é o método da diferença em psicopatologia? Simples: antes do exame, o encontro. Antes do sintoma, a vivência. Antes do indivíduo, as singularidades. Desse modo, ele, o método, está fora da psiquiatria e a ao mesmo tempo dentro da clínica. Dos signos expressos pelo paciente, extrai sentidos novos. O que o move e o inspira são as insignificâncias do viver mais estranho.
A.M.
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as
paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
Fernando Pessoa
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
O que me impressionava como a prova mais maravilhosa da minha aptidão, ou inaptidão, para a época é o fato de nada do que as pessoas diziam ou escreviam ter tido qualquer verdadeiro interesse para mim. Só o objeto me perseguia, a coisa separada, destacada, insignificante. Podia ser uma parte do corpo humano ou uma escada numa casa de vaudeville, podia ser uma chaminé ou um botão achado na sarjeta. Fosse o que fosse, permitia-me desabafar, render-me, apor a minha assinatura. E não podia apor a minha assinatura à vida que me cercava, às pessoas que compunham o mundo que conhecia. Estava definitivamente fora do seu mundo, como um canibal está fora das fronteiras da sociedade civilizada. Estava cheio de um amor perverso pela coisa em si - não um apego filosófico, mas sim de uma fome apaixonada, desesperadamente apaixonada, como se na coisa abandonada, sem valor, ignorada por todos, estivesse contido o segredo da minha própria regeneração.
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Henry Miller
MISÉRIA DA RIQUEZA
Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) são as seis pessoas mais ricas do Brasil. Eles concentram, juntos, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira (207,7 milhões). Estes seis bilionários, se gastassem um milhão de reais por dia, juntos, levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Foi o que revelou um estudo sobre desigualdade social realizado pela Oxfam.
O levantamento também revelou que os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. Além disso, mostra que os super ricos (0,1% da população brasileira hoje) ganham em um mês o mesmo que uma pessoa que recebe um salário mínimo (937 reais) - cerca de 23% da população brasileira - ganharia trabalhando por 19 anos seguidos. Os dados também apontaram para a desigualdade de gênero e raça: mantida a tendência dos últimos 20 anos, mulheres ganharão o mesmo salário que homens em 2047, enquanto negros terão equiparação de renda com brancos somente em 2089.
(...)
Marina Rossi, El País, São Paulo, 25/09/2107, 13:27 hs
RI
O ministro de Relações Exteriores da Coreia do Norte afirmou, nesta segunda-feira (25), que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou guerra ao país.
Segundo Ri Yong Ho, diante da fala de Trump, Pyongyang se reserva ao direito de tomar medidas, inclusive de abater bombardeiros norte-americanos, mesmo que eles não estejam sobrevoando a Coreia do Norte.
"O mundo inteiro deve claramente se lembrar que foram os Estados Unidos que primeiro declararam guerra ao nosso país", disse Ri a repórteres em Nova York, segundo a agência Reuters.
"Considerando que os Estados Unidos declararam guerra ao nosso país, temos todo o direito de adotar contramedidas, incluindo o direito de derrubar bombardeiros estratégicos dos Estados Unidos, mesmo que eles não estejam dentro do espaço aéreo do nosso país", ameaçou.
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Por G1, 25/09/2017, 12:11 hs
domingo, 24 de setembro de 2017
Razões adicionais para os poetas mentirem
Porque o momento
no qual a palavra feliz
é pronunciada,
jamais é o momento feliz.
Porque quem morre de sede
não pronuncia sua sede
Porque na boca da classe operária
não existe a palavra classe operária.
Porque quem desespera
não tem vontade de dizer:
“Sou um desesperado”.
Porque orgasmo e orgasmo
não são conciliáveis.
Porque o moribundo em vez de alegar:
“Estou morrendo”
só deixa perceber um ruído surdo
que não compreendemos.
Porque são os vivos
que chateiam os mortos
com suas notícias catastróficas.
Porque as palavras chegam tarde demais,
ou cedo demais
Porque, portanto, é sempre um outro,
sempre um outro
quem fala por aí,
e porque aquele
do qual se fala
se cala.
Hans Magnus Enzensberger
(tradução de Kurt Shart e Armindo Trevisan)
A VOLTA DO NAZISMO
Na etapa final da campanha eleitoral, a Alemanha tem sido testemunha de uma inédita aliança política destinada a impedir que o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) consiga superar o mínimo eleitoral de 5% dos votos para ter representação no Parlamento Federal. Líderes da CDU, do SPD, da Esquerda, dos Verdes e dos Liberais formaram uma frente comum para alertar os eleitores sobre a ameaça que paira neste domingo se o AfD conseguir, como preveem as pesquisas, tornar-se a terceira força política com 13% dos votos. Seria o primeiro partido ultradireitista na Câmara Baixa do Parlamento desde a Segunda Guerra Mundial.
“Pela primeira vez desde 1945, nazistas reais poderão ocupar a tribuna do Reichstag [edifício do Parlamento]”, advertiu há duas semanas em uma entrevista o ministro de Relações Exteriores, o social-democrata Sigmar Gabriel, ao insinuar que nas fileiras da AfD há candidatos que sentem nostalgia das glórias do nazismo. “Eles querem fazer a Europa explodir e estão fazendo da política da imigração uma campanha racista e de ressentimento”, denunciou o principal candidato do partido Liberal, Christian Lindner, em um ato de campanha.
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Enrique Muller, El País, Berlim, 23/09/2017, 21:38 hs
Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso, toda a vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória. Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue.
Fernando Pessoa
Palavra perdida no fundo
do corpo entre sonho e lembrança
feito cunha ou ângulo agudo
ou ponta rombuda de lança
cravada onde é difícil o acesso
ao mundo do eu que perdi
que a cada dia mais esqueço
embora esteja sempre ali
quase ao alcance dessa mão
que é minha apenas por um triz
e por um instante até me atrevo
a afrontar meu fio de razão
e de ânsia de ainda ser feliz
e ligo o foda-se e a escrevo.
Paulo Henriques Britto
sábado, 23 de setembro de 2017
O ÚLTIMO DIA
A reedição de uma teoria do apocalipse que circula pelas redes sociais marcava para este sábado (23) o fim do mundo pela ação do chamado planeta Nibiru ou Planeta X, que colidiria com a Terra. Até a publicação desta reportagem, a profecia, ao que tudo indica, não havia se realizado.
A profecia sobre Nibiru e o fim do mundo circula na internet há mais de duas décadas e voltou a ganhar força nas últimas semanas. A história, que combina astronomia, pesquisa científica e passagens bíblicas, já foi descartada pela Nasa em diversas ocasiões.
Inicialmente, a previsão afirmava que a catástrofe ocorreria em maio de 2003. Quando nada aconteceu, seus seguidores fizeram uma nova interpretação e a programaram para dezembro de 2012, fazendo uma conexão com um dos ciclos do calendário maia.
A mais recente previsão teria sido formulada a partir de uma teoria de David Meade, autor do livro Planet X - The 2017 Arrival ("Planeta X - 2017, a Chegada", em tradução livre para o português), que se autodescreve como "especialista em pesquisas e investigações".
Segundo ele, a nova estimativa é baseada em passagens da Bíblia e em superstições que rondam o número 33 - número de dias do intervalo entre o eclipse solar de 21 de agosto, considerado um "presságio", e a data prevista para a colisão de Nibiru.
Esta foi apenas mais uma ocasião em que uma previsão do apocalipse ganha fama e repercussão. Isso ocorre há séculos. O G1 reuniu outras setes histórias do fim dos tempos -- obviamente, nenhuma delas se concretizou:
(...)
G1, 23/09/2017, 12:01 hs
AS DEPRESSÕES E O PENSAMENTO TOSCO DA MEDICINA
(...)
As depressões “biológicas” são um caso de subjetivação inscrita nos estratos físico-químicos do organismo. Daí, alguns dados clínicos assim lhe caracterizam: 1- Os pacientes tendem à inibição psicomotora severa, às vezes chegando à passividade extrema nos casos (raros) de catatonia. 2-O contato em termos de “feeling” do terapeuta costuma se aproximar das psicoses; a antiga psicose maníaco-depressiva atesta esse “parentesco” clínico-etiológico.3-O desencadeamento dos episódios não segue uma lógica de compreensibilidade da consciência; ou seja, os sintomas aprecem muitas vezes sob “céu azul”; tudo vai bem e tudo vai mal. 4- nos períodos de remissão do quadro, a adesão ao tratamento é difícil. Estes 4 dados reforçam a hipótese de uma depressão com traços fásicos e uma subjetividade (afetos) com estilo psicótico. A alternância com a mania não é rara. Parece, pois, uma doença encaixada no paradigma médico. Essa lógica epistemológica criou um modelo único para as depressões: o biomédico. Melancolia, depressão endógena, depressão psicótica, psicose depressiva, transtorno bipolar, depressão recorrente, são nomes para designar o humor como uma secreção, a sua alteração e a possibilidade de influir, com remédios químicos, sobre a produção de serotonina e outros neurotransmissores. Nasce a depressão entificada, essencializada como doença incurável ou só controlável. Ela se afirmou na última década do século passado como O transtorno mental. A psiquiatria recolheu os frutos.Os neurocientistas contribuíram com a sua parcela de cientificidade e fé. Então, o modelo de depressão da psiquiatria é de cunho biologicista, ainda que os manuais considerem o tripé etiológico bio-psico-social ou a psicoterapia como coadjuvante ao fármaco. A prática clínica dos psiquiatras remedeiros mostra outra coisa. Se a depressão é vista como estando “dentro” do cérebro, ou de origem cerebral, isso se torna um axioma. Sim, em geral há melhora do quadro sintomático, mormente nas depressões graves. Mas, e as outras depressões?
(...)
A.M.
VESTIDO DE MULHER
Vizinhos do ex-médico Farah Jorge Farah, que foi encontrado morto nesta sexta-feira (22) em sua casa, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, dizem que, nos últimos meses, ele havia adotado um comportamento estranho e usa roupas de mulher.
Condenado a 14 anos e oito meses de cadeia por matar e esquartejar uma paciente em 2003, ele deveria ser levado de volta à prisão após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinar, na quinta, a imediata execução provisória de sua pena. Ele, porém, cometeu suicídio quando os policiais chegaram para prendê-lo.
Segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, Farah havia colocado silocone nos seios e nas nádegas. "O legista disse que ele se injetou silicone nos seios e na bunda, isso foi recentemente, mas não sei quando", disse.
Quatro vizinhos ouvidos pelo G1 relatam que Farah usava regatas e sutiãs femininos para sair às ruas e jogava seu lixo em sacolas plásticas de lixeiras de casas próximas.
(...)
Tathiane Stochero, G1 SP, 23/09/2017, 06:01 hs
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
TORCER A VIDA
O torcedor de futebol é, antes de tudo, aquele que torce a realidade. Está tomado. Assim, não lhe coloque razões, argumentos lógicos, cautelas na previsão dos fatos, análises intelectuais, discursos assépticos. Nada disso. O torcedor de futebol é, antes de tudo, um apaixonado, louco de amor, por amor e com o amor às cores do seu time. No entanto, o seu objeto não é o time, mas o torcer pelo time. Ele ama o amar. De nada adianta lhe impingir juizos morais ou políticos. Esquece. Simplesmente aceite-o. Ele também é você, claro, travestido em outros assuntos, outros objetos. É você, mesmo e principalmente se não o admite. O torcedor de futebol é um "personagem conceitual". Ele expressa o solo primário da condição humana: afetos para todos, por todos os lados, por todos os poros... experiências de perdição.
A.M.
P.S. - Texto republicado
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
PARTIR
(....)
Partir, se evadir, é traçar uma linha. O objeto mais elevado da
literatura, segundo Lawrence: "Partir, partir, se evadir... atravessar o
horizonte, penetrar em outra vida...É assim que Melville se encontra no
meio do oceano Pacífico, ele passou, realmente, a linha do horizonte." A
linha de fuga é uma desterritorialização. Os franceses não sabem bem o que é
isso. É claro que eles fogem como todo mundo, mas eles pensam que fugir é
sair do mundo, místico ou arte, ou então alguma coisa covarde, porque se
escapa dos engajamentos e das responsabilidades. Fugir não é renunciar às
ações, nada mais ativo que uma fuga. É o contrário do imaginário. É
também fazer fugir, não necessariamente os outros, mas fazer alguma coisa
fugir, fazer um sistema vazar∗ como se fura um cano. George Jackson
escreve de sua prisão: "É possível que eu fuja, mas ao longo de minha fuga,
procuro uma arma." E Lawrence ainda: "Digo que as velhas armas
apodrecem, façam novas armas e atirem no alvo." Fugir é traçar uma linha,
linhas, toda uma cartografia. Só se descobre mundos através de uma longa
fuga quebrada.
(...)
G. Deleuze e C. Parnet in Diálogos
AINDA DÁ PRA DESCER MAIS
O polêmico general Antônio Hamilton Mourão voltou ao centro das atenções no final da semana passada ao defender um golpe militar no Brasil por conta da crise política enfrentada pelas instituições. Diante do possível cometimento de um crime militar, ao, em tese, incitar seus subordinados a transgredirem a ordem constitucional, nem o Ministério da Defesa, nem o Exército abriram até a noite desta segunda-feira qualquer investigação formal para apurar a conduta do militar. Em nota, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, informou que convocou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, “para esclarecer os fatos relativos a pronunciamento de oficial general da Força e quanto às medidas cabíveis a serem tomadas”.
(...)
Afonso Bentes, El País, Brasília,19/09/2017, 14:59 hs
QUESTÕES PSICOPATOLÓGICAS
Num Caps, a psicopatologia expressa formas estranhas às taxonomias oficiais, o que faz da clínica um emaranhado de signos a-significantes. Ou seja, à pergunta “O que isso significa?” sucede um vazio de hipóteses diagnósticas preenchido pelo juízo moral das avaliações biomédicas. O lugar do psiquiatra biológico e, portanto, remedeiro, é mantido à disposição, mesmo que não haja quem o preencha. Não importa. Quase todos os técnicos o preenchem, já que uma psicopatologia meia boca (a do cérebro) tem que “existir” para justificar e autorizar a ação dos dispositivos de controle sobre o paciente. Assim, uma clínica da diferença encontra dificuldades práticas importantes, na medida em que "precisa" ser uma peça constitutiva da psiquiatria clínica no seu sentido territorial, singular (não homogeneizante). Em outros termos, há um contexto que é o da clínica que a psiquiatria instituiu há muito tempo. Esse é um dado. Nele, os movimentos da diferença (devires) só brotam, só conseguem emergir na medida em que a psicopatologia funcione com elementos de fora da relação dual (técnico-paciente). Como foi dito, são os fluxos coletivos,as multiplicidades, o real em si mesmo, que fazem uma psicopatologia e não o contrário. Resumindo, a psicopatologia de um Caps é urdida fora do Caps. A necessidade de implicação da Atenção Básica é um truísmo. Do contrário, o Caps não será mais que a reprodução soft da forma-hospício.
A.M.
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
O DESCOBRIMENTO DE CABRAL
O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, foi condenado nesta quarta-feira (20) por crimes investigados pela Operação Calicute, um dos desdobramentos da Lava Jato. Cabral foi condenado a 45 anos e 2 meses de reclusão, além de multa, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e pertencimento a organização criminosa.
(...)
Arthur Guimarães, RJTV, Globo.com, 20/09/2017, 19:49 hs
Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarro
nem bebida –
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.
… de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carros,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiras,
motoristas de taxis…
e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.
Charles Bukowski
CURA GAY ?
Uma polêmica decisão judicial causou nesta segunda-feira uma onda de indignação — e de memes — nas redes sociais. No último dia 15, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, concedeu uma liminar que, na prática, torna legalmente possível que psicólogos ofereçam pseudoterapias de reversão sexual, popularmente chamadas de cura gay.
Não foram poucos os que, em protesto, acusaram o magistrado de ser homofóbico e de ter dito que a homossexualidade é doença. Na verdade, Carvalho não chega a defender explicitamente a cura gay e nem derruba uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que, desde março de 1999, proíbe sua prática. Ele inclusive deixa claro em seu texto que, ao analisar o caso, adotou como premissa o posicionamento da Organização Mundial da Saúde de que "a homossexualidade constitui uma variação natural da sexualidade humana, não podendo ser, portanto, considerada como condição patológica". (Leia aqui a decisão)
Entretanto, o juiz contraditoriamente determina que o órgão altere a interpretação de suas normas de forma a não impedir os profissionais "de promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma reservada, pertinente à (re)orientação sexual, garantindo-lhes, assim, a plena liberdade científica acerca da matéria, sem qualquer censura ou necessidade de licença prévia.
(...)
Felipe Betim, El País, São Paulo, 20/09/2017, 12:01 hs
terça-feira, 19 de setembro de 2017
NÃO SOU UM DE VOCÊS
A diferença não é o indivíduo. A diferença é a multiplicidade. O que isso quer dizer? Quer dizer que somos compostos por linhas de singularização. Não somos os mesmos, não somos iguais, não somos normais, exceto como serviçais da ordem estabelecida. Ao contrário, os devires nos tomam, nos afetam e nos movem em processos afetivos. Isso flui. Nada romântico. A diferença é ,então, “obrigada”, pelos poderes vigentes, a se expressar como maldita, cruel, pária, excluída, traste, marginal. É que os signatários da ordem burguesa adoram marcar suas referências de valor excluindo o que não é espelho. Amam odiar o que desconhecem. Amam o ódio. O ódio e o ressentimento chegam disfarçados de bondade. Veja a direita, tanto entre os petistas quanto entre os bolsonaristas. Oh, quão semelhantes! Daí, reprimir passa a ser natural como o sol. Ser diferente não busca, nem é o individual. É outra coisa: viaja entre modos subjetivos opacos à razão estabelecida. Não é fácil.
A.M.
Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.
Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
Este Artaud, mas, por falta do que fazer…
Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.
Antonin Artaud
MICHEL TEMER OU A AGONIA DO NADA
O Nada escalou a tribuna da Assembleia Geral da ONU na manhã desta terça-feira. Chama-se Michel Temer. Alguns dos presentes talvez tenham tentado enxergá-lo. Perceberam que era inútil. O olhar atravessava o Nada e ia bater no mármore ao fundo. Discursos como o que foi lido pelo presidente são redigidos no Itamaraty. O ghost writer escalado pela diplomacia esforçou-se para dar a Temer a aparência de um orador invisível, que não causasse problemas a si mesmo. Exagerou.
Cenho imponente, o Nada soou taxativo sobre temas em relação aos quais sua opinião não tem a mais remota relevância: “Os recentes testes nucleares e missilísticos na Península Coreana constituem grave ameaça…”. E silenciou sobre uma questão que, por intrigante, os brasileiros e os líderes mundiais gostariam de ver respondida: por que diabos o Brasil abdicou do progresso para se consolidar como uma cleptocracia clássica?
Desdobando-se para realçar a inutilidade da fala que o redator-fantasma do Itamaraty acomodou-lhe nos lábios, Temer discorreu sobre armas nucleares —“Reiteramos nosso chamado a que as potências assumam compromissos adicionais de desarmamento”—, falou sobre Oriente Médio —“Amigo de palestinos e israelenses, o Brasil segue favorecendo a solução de dois Estados convivendo em paz e segurança”—, realçou a encrenca da Síria —“A solução que se deve buscar é essencialmente política” —, sem esquecer todos os demais conflitos que inquietam o planeta —“No Afeganistão, na Líbia, no Iêmen, no Mali ou na República Centro-Africana, as guerras causam sofrimentos intoleráveis.”
O Nada sugeriu à plateia um passeio incômodo: “Percorramos os campos de refugiados e deslocados no Iraque, na Jordânia, no Líbano, no Quênia. Ouçamos as histórias dos que perderam pais, mães, filhos, filhas. São famílias que foram tragadas pela irracionalidade de disputas que não parecem conhecer limites. De disputas que, com frequência inaceitável, se materializam ao arrepio do direito humanitário.”
O “mal do terrorismo”, o “crime transnacional”, as “violações dos direitos humanos em todo o mundo”, o “racismo, a xenofobia e todas as formas de discriminação”, os “refugiados da Venezuela”… O redator do Itamaraty fez do Nada um personagem capaz de falar de tudo, exceto da moralidade e da ética que seu governo sonega aos brasileiros. Sobre o Brasil, a propósito, Temer realçou dois temas: ecologia e economia. Disse meias-verdades sobre ambos, privilegiando a metade que é mentirosa.
“O Brasil orgulha-se de ter a maior cobertura de florestas tropicais do planeta”, realçou o redator do Itamaraty, antes de anunciar “a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região.” Nenhuma palavra sobre o decreto que Temer editou, reescreveu, revogou e planeja reeditar para assegurar a exploração mineral numa área de reserva na Amazônia, a Renca. O vaivém sobre a matéria provocou gritaria local e internacional. Só por isso o lero-lero ambiental frequentou as preocupações do redator do Itamaraty.
“O Brasil atravessa momento de transformações decisivas”, declarou, de repente, o Nada. “Com reformas estruturais, estamos superando uma crise econômica sem precedentes. Estamos resgatando o equilíbrio fiscal”, acrescentou, alheio à recentíssima conversão da meta fiscal brasileira de rombo em cratera. “O novo Brasil que está surgindo das reformas é um país mais aberto ao mundo”, prosseguiu o Nada, sem se dar conta de que, voltando a Brasília, terá de negligenciar novamente a reforma da Previdência para priorizar a recompra na Câmara dos votos que garantirão o enterro da nova denúncia da Procuradoria.
Tomado pela densidade, o discurso de Temer na ONU pode ser definido como a insustentável leveza do nada. Observada pela utilidade, a fala do presidente brasileiro foi dinheiro do contribuinte desperdiçado numa viagem dispensável. Considerando-se a importância que o mundo atribuiu às palavras do redator do Itamaraty, o Nada conseguiu, finalmente, unir os brasileiros. Ateou em todos o mais profundo sentimento de vergonha. O vexame só não é insuperável porque Temer deve retornar à ONU em 2018.
Do Blog do Josias de Souza, 19/09/2017, 14:10 hs
PEDOFILIA, UM PROBLEMA
Nesta terça-feira, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados promove uma audiência pública para debater abuso e exploração sexual de crianças no futebol brasileiro. São mais de uma centena de casos de jovens atletas abusados por treinadores, preparadores físicos, olheiros e dirigentes. Um tipo de violência perverso e velado, com a peculiaridade de ter como alvo vítimas do sexo masculino. Boa parte deles apresenta um roteiro em comum: abusadores que já tiveram passagem pela polícia ou foram condenados por algum tipo de violação sexual, mas que voltam a cometer o mesmo crime após deixarem a cadeia. A repercussão em torno da decisão da Justiça Federal do DF, que autoriza psicólogos a tratarem a homossexualidade como doença, é um momento oportuno para jogar luz sobre uma outra questão, que ainda gera confusão entre coisas totalmente distintas.
Homossexualidade não é doença, assim como a orientação sexual de uma pessoa é traço insuficiente para torná-la mais propensa a cometer crimes associados à pedofilia. Porém, é assim que muita gente, incluindo parlamentares, juízes, promotores e delegados, costuma pensar diante de casos de abuso em que a vítima é do mesmo sexo do abusador. Em 2013, por exemplo, durante uma das sessões da CPI do Tráfico de Pessoas, que investigava abusos sexuais de garotos no futebol, o deputado federal Severino Ninho questionou se um treinador, suspeito de estuprar e dopar adolescentes que alojava em seu apartamento, era homossexual, reproduzindo uma visão preconceituosa que perdura no meio futebolístico de que o abuso sexual de meninos tem a ver com homossexualidade, e não com uma prática criminosa.
(...)
Breiller Pires , El País, São Paulo, 19/09/2017, 10:45 hs
A CASA DOS AMERICANOS
O embaixador da Coreia do Norte Ja Song Nam deixa a Assembleia Geral da ONU antes da chegada do presidente dos EUA, Donald Trump... (do UOL Notícias, 19/09/2017, 12:11 hs)
FINAL DE SÉCULO
A coisa anda meio difícil
pra quem não dispensa uma alegria.
Até uma boa e sincera tristeza
anda cada vez mais rara
com essa moda de alto astral a qualquer preço.
Se alguém acha que este mundo
anda meio cafajeste, ou ainda mais,
não sou eu que vou contradizer.
Mas na verdade, tudo mudou
muito pouco.
Um ou outro mito,
aqui e ali um grito,
mais ou menos aflito.
O que varia mesmo é o som do apito
de acordo com o bairro, conforme o gueto.
Em alguns a polícia acode e sacode;
em outros se salva quem pode.
A carne continua fraca.
Mormente a da mucosa,
mais frágil, mais perigosa.
A lua tem seus caprichos.
Os poderosos mentem,
as filas aumentam,
a cerveja anda nojenta
e o rapaz da TV diz que vai ser mais eficaz
o combate ao tráfico de drogas.
Por mim, espero apenas
a passagem vertiginosa dos riscos voadores.
Eudoro Augusto
CORRUPÇÃO INSTITUÍDA
A cerimônia de posse de Raquel Dodge ajuda a entender por que o Brasil é o mais antigo país do futuro do mundo. Havia delatados, investigados e denunciados em toda parte, inclusive na mesa reservada aos presidentes dos Poderes. Pelo Executivo, Michel Temer, que já coleciona duas denúncias criminais. Pelo Legislativo, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia, cada um com dois inquéritos.
A esse ponto chegamos: dois dos três poderes são comandados por políticos que têm contas a acertar com a Justiça. Bastava a Raquel Dodge olhar ao seu redor para perceber o tamanho do desafio que tem pela frente. Os procurados faziam festa para a procuradora-geral. A normalidade institucional brasileira é mesmo perturbadora.
Quem assistiu ficou com a impressão de que a banda podre da política está vencendo a guerra. A quantidade absurda de escândalos indica que o Brasil não é mais um país onde pipocam casos de corrupção. Virou um país, em si, corrupto.
A nova procuradora-geral pregou a harmonia entre as instituições. Ótimo. Mas não se deve confundir as instituições com os investigados que as dirigem. A restauração da harmonia depende da punição de todos os que estão em desarmonia com a moralidade.
Do Blog do Josias de Souza,19/09/2017, 00:49 hs
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Mas essa sensação é ilusória, pois esses vestígios não fazem mais parte de você: só podem ser ocupados provisoriamente, como uma roupa que se veste. Assim que se cansar desse jogo e se levantar da cadeira, você vai voltar a perdê-los: mais ainda, vai perder também uma pequena porção adicional de sua matéria, mais vestígios seus que vão ficar no ar, superpostos aos anteriores. Esses vestígios mais cedo ou mais tarde vão se dispersar, com o movimento constante de corpos no quarto, e se perder para sempre. Assim, você está constantemente largando camadas sucessivas de seu ser, desintegrando-se a cada instante de sua existência no espaço; e é por isso que você não é eterno, não pode ser eterno, pelo mesmo motivo que um lápis ou uma borracha não podem ser eternos.
Mas há uma maneira simples de alterar essa situação - quer dizer, não alterá-la objetivamente, o que seria impossível, e sim modificar o modo como você a vivencia (e como você só sabe das situações o que vivencia delas, para todos os fins práticos modificar sua percepção de uma situação é a mesma coisa que modificar a situação em si): basta sentar-se na cadeira, pegar um lápis e uma folha de papel, e começar a escrever.
Paulo Henriques Britto
O NIILISMO POLÍTICO
No dia 17 de março de 2014, foi deflagrada a primeira fase da Operação Lava Jato. Desde então, ela já chegou até a 45ª fase, entre críticas e honras, com 165 condenações e a descoberta de desvios que podem chegar a 10 bilhões de reais. Nesses três anos e meio, os noticiários foram inundados de reportagem sobre a prisão de políticos, empresários e doleiros, o que trouxe um efeito colateral ao país. A população aumentou seu ódio pela política e alimenta uma sensação de impotência e fracasso, num círculo vicioso que deixou a sociedade dividida e paralisada.
Mas afinal de contas, o combate a corrupção faz bem ou mal ao Brasil? Para responder a estas perguntas recorrentes, aconteceu na manhã da segunda feira, 18, o evento Corrupção: Avanços e Afetos, uma realização da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP) em parceria com o EL PAÍS. O segundo Ciclo de Debates contou com a participação de Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e o advogado Márcio Pestana, que é professor da FAAP, árbitro da Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem Ciesp/Fiesp e autor do livro Lei Anticorrupção.
Uma das respostas que surgiu em meio a esse momento histórico foi um cenário de descrença dos brasileiros nas instituições que regem o país. Em 2016, o Brasil assistiu à maior taxa de abstenção em eleições, até então. Para o professor Janine Ribeiro, o desprezo pela política não é a melhor saída. "Existem pessoas que agem como se a política estivesse numa estante do supermercado e se nenhum dos artigos é bom pra ela, ela não compra", afirma. Mas para ele, “as pessoas honestas são mais numerosas que as desonestas”, completa.
(...)
Beatriz Sanz, El País, 18/09/2017, 19:21 hs
domingo, 17 de setembro de 2017
OBJEÇÕES NÃO LEVAM A NADA
É difícil "se explicar" – uma entrevista, um diálogo, uma conversa. A
maior parte do tempo, quando me colocam uma questão, mesmo que ela me
interesse, percebo que não tenho estritamente nada a dizer. As questões são
fabricadas, como outra coisa qualquer. Se não deixam que você fabrique suas
questões, com elementos vindos de toda parte, de qualquer lugar, se as
colocam a você, não tem muito o que dizer. A arte de construir um problema
é muito importante: inventa-se um problema, uma posição de problema,
antes de se encontrar a solução. Nada disso acontece em uma entrevista, em
uma conversa, em uma discussão. Nem mesmo a reflexão de uma, duas ou
mais pessoas basta. E muito menos a reflexão. Com as objeções é ainda pior.
Cada vez que me fazem uma objeção, tenho vontade de dizer: "Está certo,
está certo, passemos a outra coisa." As objeções nunca levaram a nada. O
mesmo acontece quando me colocam uma questão geral. O objetivo não é
responder a questões, é sair delas. Muitas pessoas pensam que somente
repisando a questão é que se pode sair delas. "O que há com a filosofia? Ela
está morta? Vai ser superada?" É muito desagradável.
(...)
G. Deleuze e C. Parnet in Diálogos
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