quinta-feira, 21 de setembro de 2017

QUESTÕES PSICOPATOLÓGICAS

Num Caps, a psicopatologia expressa formas estranhas às taxonomias oficiais, o que faz da clínica um emaranhado de signos a-significantes. Ou seja, à pergunta “O que isso significa?” sucede um vazio de hipóteses diagnósticas preenchido pelo juízo moral das avaliações biomédicas. O lugar do psiquiatra biológico e, portanto, remedeiro, é mantido à disposição, mesmo que não haja quem o preencha. Não importa. Quase todos os técnicos o preenchem, já que uma psicopatologia meia boca (a do cérebro) tem que “existir” para justificar e autorizar a ação dos dispositivos de controle sobre o paciente. Assim, uma clínica da diferença encontra dificuldades práticas importantes, na medida em que "precisa" ser uma peça constitutiva da psiquiatria clínica no seu sentido territorial, singular (não homogeneizante). Em outros termos, há um contexto que é o da clínica que a psiquiatria instituiu há muito tempo. Esse é um dado. Nele, os movimentos da diferença (devires) só brotam, só conseguem emergir na medida em que a psicopatologia funcione com elementos de fora da relação dual (técnico-paciente). Como foi dito, são os fluxos coletivos,as multiplicidades, o real em si mesmo, que fazem uma psicopatologia e não o contrário. Resumindo, a psicopatologia de um Caps é urdida fora do Caps. A necessidade de implicação da Atenção Básica é um truísmo. Do contrário, o Caps não será mais que a reprodução soft da forma-hospício.


A.M.

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