sábado, 23 de setembro de 2017

AS DEPRESSÕES E O PENSAMENTO TOSCO DA MEDICINA

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As depressões  “biológicas” são  um caso de subjetivação inscrita  nos  estratos  físico-químicos  do organismo. Daí, alguns dados  clínicos  assim lhe caracterizam: 1- Os pacientes tendem  à inibição psicomotora severa, às vezes  chegando  à passividade extrema nos casos (raros) de catatonia. 2-O contato em termos de “feeling” do terapeuta costuma se aproximar das  psicoses; a antiga psicose maníaco-depressiva atesta esse “parentesco” clínico-etiológico.3-O desencadeamento dos episódios não segue uma lógica  de compreensibilidade da consciência; ou seja, os  sintomas  aprecem muitas vezes sob “céu azul”; tudo vai bem e tudo vai mal. 4- nos períodos  de remissão do quadro, a adesão ao tratamento é difícil. Estes 4 dados reforçam a hipótese de uma depressão com traços fásicos e uma subjetividade (afetos) com estilo psicótico. A alternância com a mania não é rara. Parece, pois, uma doença encaixada no paradigma médico. Essa lógica epistemológica criou um modelo único para as depressões: o biomédico. Melancolia, depressão endógena, depressão psicótica,  psicose depressiva, transtorno bipolar, depressão recorrente, são nomes para designar o humor como uma secreção, a sua alteração e a possibilidade de  influir, com  remédios químicos, sobre a produção de  serotonina  e  outros  neurotransmissores. Nasce a depressão entificada, essencializada como doença incurável ou só controlável. Ela se afirmou na última década  do século passado como O transtorno mental. A psiquiatria recolheu os frutos.Os neurocientistas contribuíram com a sua parcela de cientificidade e fé. Então, o modelo de depressão da psiquiatria é de cunho biologicista, ainda que os manuais considerem o tripé etiológico bio-psico-social ou a psicoterapia como coadjuvante ao fármaco. A prática clínica dos psiquiatras remedeiros mostra outra coisa. Se a depressão é vista como estando  “dentro” do cérebro, ou de origem cerebral, isso se torna um axioma. Sim, em geral há melhora do quadro sintomático, mormente nas depressões graves. Mas, e as outras depressões? 
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A.M.

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