quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO: CRÍTICA E CLÍNICA

Há muitos diagnósticos em psiquiatria. Eles buscam conhecer o que se passa com o paciente.  Este é, pelo  menos, o discurso do humanismo científico, sempre interessado em promover a melhora, o alívio dos  sintomas e, se possível, a cura  do  paciente.  
Contudo, a prática clínica mostra que o diagnóstico psiquiátrico é, antes, uma palavra de ordem, pela qual e na qual o efeito-psiquiatria cola no paciente. Neste sentido, a relação dita terapêutica se constitui como um invólucro  dos poderes que lhe  dão um suporte de verdade. O  ato médico-psiquiátrico é encharcado de moral e de compromissos micro-políticos (não  explícitos) com a Ordem  Estabelecida. Sendo assim, o diagnóstico não é um ato puro de cognição do Outro, ou seja, não busca, em princípio,  reconhecer e conhecer o Outro para  tratá-lo com técnicas  científicas. Então, o que  busca?
O controle. 
Tudo parte do significado que é conferido à loucura. Conotada à fabricação da  doença  mental ao longo  do  século  XIX , ela é hoje o des-controle do sistema cérebro/mente  (e tudo  que isso  implica) tomando-o como lesionado. Grosso modo, é esta a neuro-concepção que  embasa os  trabalhos da  psiquiatria dita biológica. Os diagnósticos se sucedem na esteira de  um  esquematismo cidológico totalitário. Duas questões,  no entanto, se  impõem  : 1-qual a etiologia (como aparelho teórico) dos  transtornos  mentais? 2-a quem servem os diagnósticos, dispondo de tão  extraordinária variedade semiológica?
Na  borda da ideia de loucura, a nossa referência é a clínica, ou seja, o Encontro com o paciente. Etiologia e diagnóstico aí  estão presentes  apenas  como  referência  de  uma  verdade pontual, relativa e fragmentária. Ora, se a etiologia da psiquiatria biológica é reducionista e o  diagnóstico é focado apenas nos sintomas, o remédio químico irá tamponar a  riqueza  vivencial do  paciente.
Crítica ao diagnóstico psiquiátrico? Sim, pois ele é pseudo-etiológico ou escancaradamente sintomático  (não-etiológico). E qual a clínica? Ah, outras clínicas  (usando a ciência, a filosofia  e a arte) em contextos e conexões  singulares. No fundo, a loucura  assombra  o  olhar da  razão médica,  e por isso é referência-base para outras  clínicas.  Quais? Ao fim do ato de  inventá-las  saberemos. Antes,  impossível. 

A.M.

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