A INVOLUNTARIEDADE EM PSICOPATOLOGIA
A clínica psicopatológica abrange situações concretas, por vezes, muito difíceis. Uma delas configura o que chamamos de involuntariedade do paciente em relação ao cuidado que lhe é oferecido. Dito de outro modo, ele não sente a necessidade de ser atendido. A sua vivência se expressa como rechaço (em maior ou menor grau) à aproximação do técnico, configurando o que a psiquiatria ortodoxa chama de "negativismo". Os quadros diagnósticos mais encontradiços nesse tipo de atitude são as chamadas psicoses. Mas não só. Há situações em que o paciente não colabora, não aceita conversar, etc, mas não está psicótico. São, por exemplo, casos de dependência de drogas, transtornos do humor, transtornos da personalidade, e, como não citar, as intrigantes dissociações histéricas. O que essas formas patológicas (sempre singulares, vale ressaltar) apresentam em comum é o elemento de involuntariedade aludido acima. Então estará em curso uma problemática clínica complexa que implica no manejo da situação com evidente implicação ética. O que fazer? No trabalho do Caps esse tipo de demanda leva à necessidade de que toda a equipe se disponha a discutir os modos de intervenção. Ora, essa tarefa não conta com um protocolo ou manual prático como quer o ideário biomédico da psiquiatria. Pensar a clínica é, pois, analisar cada caso a partir da relação do técnico com o paciente e da relação do paciente com o que está em torno, comumente e o mais próximo, a família. Trata-se do Contexto atual que desemboca no "algo tem que ser feito". É essencial tal postura pois identifica as condições e vetores reais (sociais, orgânicos, familiares, culturais, econômicos, etc) que estão a produzir e a manter o patológico. A psicopatologia sai, então, do terreno áspero do diagnóstico engessado e engessante, ou mesmo do não-diagnóstico, e vai até às multiplicidades do mundo que atuam singularmente no Encontro com o paciente. Tarefa difícil, inglória, delicada, mas não impossível.
A.M.
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