quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A  EQUIPE  TÉCNICA  NUM  CAPS

É possível que muitos Caps  funcionem sem equipe técnica, mesmo que tenham uma. A razão é simples. Uma equipe, para ser técnica, tem que ser (ou tornar-se) um grupo. No contexto da organização administrativa do serviço este grupo será atravessado por linhas do saber-poder. Significa dizer que 1- as fronteiras entre os saberes serão dissolvidas em prol das questões da saúde mental. Emergirão saberes híbridos formados da junção de uma ou mais teorias, compondo dispositivos teóricos imediatamente clínicos, ações (poderes) produzindo efeitos sobre o paciente e redundando em linhas de autonomia subjetiva para o mesmo; 2-as identidades técnico-profissionais serão alteradas na medida da necessidade dos casos. Ser médico, ser psicólogo, ser enfermeiro, etc, como papéis-funções, estão passíveis de adequações conforme tarefas a efetivar no projeto terapêutico; 3-as determinações sócio-econômico-político-culturais e trabalhistas serão elementos constitutivos da própria superfície do trabalho do grupo; 4-o conceito de transtorno mental estará em permanente suspeição, não como hostilidade, mas como ato de produzir discursos e práticas diferenciadas em relação aos saberes instituídos, vinculando-os diretamente à realidade social; 5- instala-se um processo grupal da equipe no lugar da entidade equipe técnica. Nesse sentido, a clínica em saúde mental torna-se uma clínica singular em permanente construção, não só a partir dos sintomas que o paciente traz, mas a partir dos índices de afeto (está gostando do trabalho?) que a própria equipe expressa em si mesma. Assim, uma auto-análise permanente do grupo constituirá o trabalho. Como dissemos ao início, sem grupo não há equipe técnica senão como burocracia disfarçada. Ainda mais no serviço público. Claro que isso pode ser insuportável para alguns profissionais.

A.M.

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