sexta-feira, 8 de setembro de 2017

OS DOIS CAPS

Um Caps é uma forma social que traz  sua história ligada ao antigo hospital psiquiátrico, o qual também é uma forma social que mantém linhas de funcionamento atualizadas no interior da realidade capsiana, mas nem sempre são perceptíveis à observação do cotidiano. A percepção institucional é, pois, naturalizada e vivida coletivamente como um território de sentido e por extensão, de modos de subjetivação conservadores. Todos são afetados. Por outro lado, o discurso burocratizado da luta antimanicomial opera uma produção incessante de Verdade: uma ideologia em oposição a outra ideologia, a psiquiátrica. Pensamos outra coisa para além de um dualismo reducionista e estéril. É que a forma social Caps é uma multiplicidade. Funciona, ou deveria funcionar, ainda que em pequena margem, com a suspensão do valor-verdade sobre o que se chama transtorno mental, ou, numa visão não médica, sobre a experiência da loucura. É um serviço que se acha numa linha de fronteira técnico-institucional entre a forma- manicômio (a matriz que veio do século XIX) e a forma-Caps, a qual adquire variados tons clínico-políticos, inclusive os da psiquiatria biológica, supostamente o inverso do messianismo de esquerda, para não falar de outros...  A questão a ser debatida não é, pois, a de uma suposta busca de identidade para o Caps como reação à psiquiatria neurobiológica,  mas a de explorar a potência da equipe técnica nas mil possibilidades de Encontro com o paciente, e por extensão, com a loucura dos tempos que correm. Esta é uma tarefa que esbarra em muros subjetivos visíveis e invisíveis, e por isso mesmo instigante.


A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário