quinta-feira, 31 de maio de 2018

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

Na esteira da greve dos caminhoneiros, que surgiu como um movimento com pautas claras referentes ao preço do diesel, aqui e ali apareceram pedidos por uma "intervenção militar". A demanda ilegal por uma tomada de poder pelos militares foi defendida por alguns grupos de caminhoneiros e também por grupos independentes que pegaram carona na boleia de uma mobilização que parou o país sem causar rechaço. Foi uma inédita vitrine para um pedido que voltou às ruas a partir de 2013. Mas qual a dimensão desse aspecto no movimento? Além da percepção de que nem todo mundo que clamava pelos militares parecia se referir uma ditadura propriamente dita, diferentes análises das redes sociais mostram que, dentro do universo de menções sobre a greve dos caminhoneiros, os pedidos por um golpe — já que a "intervenção" que pedem não está prevista na Constituição — foram minoria.
Ainda assim, o impacto não foi desprezível. Ao longo dos últimos dias de greve, os bloqueios em estradas foram engrossados por manifestantes vestidos de verde e amarelo que exigiam justamente que os militares agissem para tirar Michel Temer do poder.  Alimentados por boatos vindos das redes de milhares de perfis, criou-se até mesmo em alguns pontos a expectativa por uma intervenção que nunca chegou. Ministros e generais precisaram dar entrevistas afirmando que um golpe estava fora de cogitação. “Intervenção militar é coisa do século passado”, chegou a dizer Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional e general de reserva do Exército.
(...)

André de Oliveira, Felipe Betim, El País, São Paulo, 31/05/2018, 12:08 hs

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