sexta-feira, 25 de maio de 2018

QUAL A DIFERENÇA?

Num território clínico encharcado pelo uso generalizado de psicofármacos, como fazer a diferença? O próprio paciente quer fármacos, pede isso, mais e mais,naturalizando a função do psiquiatra como a de “passador de remédios”. Mas não só o paciente o faz. Quase todos pedem mais remédios químicos para manter a ordem, resolver uma crise, evitar um suicídio, desconstruir delírios perigosos, adequar condutas, concertar mentes, etc. Trata-se de um legado do antigo manicômio, o velho hospício, hoje o hospício-em-nós. Ele se atualiza como necessidade da psiquiatria. Os argumentos são variados. Alguns: clínicos: as psicoses são consideradas como as patologias mentais mais graves; por isso, só um psiquiatra estaria capacitado para tratá-las, pelos menos num primeiro instante; morais: os transtornos mentais levam os seus portadores a condutas socialmente inadequadas, às vezes violentas; o psiquiatra deve ser chamado;jurídicos: o psiquiatra é médico e esse dado implica num poder jurídico estabelecido, o que o diferencia dos demais técnicos; institucionais: a relação de poder psiquiatra-paciente fornece o modelo de atendimento que se reproduz como verdade da clínica. Ora, numa ótica não-manicomial (se é isso o que se busca) a função-psiquiatra deve ser estilhaçada, fragmentada (não destruída) e desse modo ser possível outra inserção do psiquiatra num Caps. Havendo a escuta do paciente e um movimento dialógico até os demais técnicos, uma clínica transdisciplinar se inicia.

A.M

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