DEPRESSÃO À MÃO CHEIA
A depressão não constitue uma doença no sentido biomédico.No entanto, a maior parte dos atendimentos/cuidados ao paciente deprimido é realizada por médicos. Isto se deve ao fato do uso juridicamente autorizado de psicofármacos ser restrito a estes profissionais. O psiquiatra, óbvio, desponta como uma espécie de agente anti-depressão. Ocorre que, se a depressão não é uma doença, existe, contudo, um sofrimento que é o do deprimido Qual é a sua origem?Ora, a pergunta remete ao ítem que a medicina chama de etiopatogenia (causa e mecanismo) das doenças. Mantendo tal raciocínio, continuamos a girar no circuito médico de realimentação conceitual e clínica.Depressão - remédio químico - melhora ou cura. Diferentemente, é possível propor uma linha de fuga a esse sistema de pensamento nosológico (vide o extenso capítulo sobre a depressão na CID-10) e à prática clínica. A depressão é um modo de existência determinado por fatores múltiplos que se condensam e se expressam na cultura atual, no mundo atual capitalístico como redução (maior ou menor) da vontade de viver. Desse modo é possível e desejável alargar a problemática depressiva rumo a uma visão transdisciplinar. Aí são borradas as fronteiras entre os saberes em prol da análise e intervenção prática sobre o universo subjetivo daquele que sofre. Seja, no fim das contas, a Clínica como prática social atravessada por multiplicidades. Tudo por fazer. O paciente está deprimido porque a mãe faleceu mas está viva, ou porque sofreu um assalto ou porque sofreu estupro ontem-agora ou porque na infância algo aconteceu, ou porque seu pai lhe abandonou, ou porque os refugiados do oriente médio estão morrendo, ou porque o nosso país agoniza ou porque a namorada foi embora ou porque ninguém lhe ama ou porque todos roubam ou porque todos lhe enganam ou ou porque deixou o útero materno ou porque seu cérebro rompeu com a serotonina e ficou com a noradrenalina ou porque lhe falta um amor ou porque o velho testamento lhe acusa, ou porque está desempregado, ou porque assistiu o programa de roberto carlos no natal, ou porque o mundo está no fim ou porque há guerras infindas ou porque o luar não é mais o mesmo o porque todos vão um dia morrer ou porque etc etc... Afinal, a depressão, se usarmos M. Klein ou Pichon Rivière, nos segue desde muito cedo.
A.M.
Isso mesmo...
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