O MEDO ARGENTINO
Ser argentino, entre outras coisas, é ter medo de que algo terrível aconteça em qualquer dia, ao virar a esquina. Todos os argentinos maiores de 50 anos foram contemporâneos e sobreviventes de cinco crises econômicas dramáticas que transformaram suas vidas e deixaram uma marca indelével de alerta e temor. E os que são mais novos receberam, quase por transmissão genética, a memória emotiva desses traumas.
Por isso, nessa semana, quando o peso argentino voltou a afundar, quando sua desvalorização foi a mais alta do continente, quando o Banco Central precisou vender 6 bilhões de dólares (21 bilhões de reais) de reservas sem conseguir conter o aumento do dólar, quando a revista Forbes colocava na manchete: “É hora de fugir rapidamente da Argentina”, todos os medos voltaram a se instalar no coração dos habitantes do país. E o medo, sabemos, não é um componente que ajuda muito a superar uma situação como essa.
O desencadeador da tempestade foi a decisão do Banco Central dos EUA de subir a taxa de bônus do Tesouro norte-americano. Isso causou uma fuga de fundos do mundo inteiro em direção a Wall Street. Os principais investidores se livraram de suas posses em moeda estrangeira e muitas delas desvalorizaram. Mas nenhuma como a moeda da Argentina: o peso caiu aproximadamente 14% em poucos dias.
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Ernesto Tenembaum, El País, 05/05/2018, 16:20 hs
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