domingo, 23 de setembro de 2018

MAU HUMOR

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O jogo da zoeira já foi dominado pela esquerda, que respondia com inúmeros memes às críticas. Talvez a frase "Lula ladrão, roubou meu coração" sintetize essa batalha de mensagens telegráficas: a condenação por corrupção se transforma numa declaração de amor, num jogo de palavras que visa desprezar qualquer conversa séria sobre o tema. Votar era um grande bloco de Carnaval, que espalhava folia em meio à sisudez. Numa outra saída, havia o "humoralismo", com tiradas que soavam como humor, mas exalavam superioridade moral.
Eis que a direita bolsonarista se apropriou dessa estética e imprimiu nela um ritmo industrial. Recebo todos os dias memes e piadas sacaneando todo mundo que se opõe a Bolsonaro, de Marina a Lula. O próprio trocadilho "É melhor Jair se acostumando" tem uma função humorística inegável. Boas ou não, essas piadas cumprem o papel que antes pertencia à TV, por substituir o debate público, entreter e, ao mesmo tempo, entregar ao eleitor um raciocínio pronto, com o qual pode fingir que debate pelo simples ato de encaminhar. Dificilmente haverá caminho melhor que o humor para apresentar um ponto de vista de forma não só catártica quanto memorável -- mesmo que o argumento por baixo dele seja frouxo. Diante do capitão, porém, o discurso da esquerda perdeu completamente o humor.
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Márvio Dos Santos, Época, acessado em 23/09/2018




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