domingo, 28 de junho de 2020

BRASIL LIDERANDO

Seis meses depois de o mundo registrar oficialmente o primeiro caso da Covid-19, o surto ganha a cada dia mais força. Dados publicados neste domingo pela OMS revelam um número inédito de novos casos em 24 horas. No período avaliado pela entidade, foram 189 mil casos extras, com o Brasil liderando as infecções e mortes.

Nesta semana, a agência mundial da Saúde vai marcar os seis meses do primeiro caso informado à entidade, em 31 de dezembro de 2019. Mas a marca será usada para que a cúpula da OMS alerte, nesta segunda-feira, que não há sinais de que a crise esteja perdendo força.

Um apelo será lançado a partir de Genebra para que governos assumam suas responsabilidades, superem divisões internas e estabeleçam acordos mundiais. Também haverá um pedido para que os estados insistam de forma significativa em testes e que medidas de proteção social e distanciamento sejam mantidas.

Para reforçar sua tese, a agência irá insistir sobre os números mais recentes, os piores desde o começo da crise.

Os dados da OMS estão defasados em pelo menos um dia, já que a agência precisa coletar as informações de 193 países para fazer seu mapa mundial. Por isso, de acordo com a entidade, o número oficial de casos ainda é de 9,8 milhões. Para outros bancos de dados, o total já superou a marca de 10 milhões e 500 mil mortos.

Com 46,8 mil casos, o Brasil é o líder mundial em número de novos casos no período de 24 horas. Os americanos vêm em segundo lugar, com 44 mil. Sozinho, o Brasil registrou quase três vezes o número diário da Europa, com 16,5 mil novos casos nas últimas 24 horas. O país, porém, representa apenas 2,3% da população mundial.

O recorde mundial supera outra marca também assustadora, registrada na sexta-feira. Naquele momento, foram 170 mil novos casos.

A OMS alerta que o mundo precisou de dois meses para atingir os primeiros cem mil casos, o que hoje ocorre em praticamente doze horas.

No que se refere ao número de mortes, o período de 24 horas somou 4,6 mil novos óbitos, com 990 deles ocorrendo no Brasil.

Meio ano depois do primeiro alerta oficial da China, em 31 de dezembro de 2019, e meses depois da emergência global declarada pela OMS no final de janeiro, é a situação no Brasil que ocupa em grande parte o centro das atenções nos debates a portas fechadas em Genebra.

Com 200 milhões de habitantes e sem controle, o país é avaliado por parte dos especialistas como uma "ameaça" na luta contra a pandemia, ao lado dos EUA.

De uma forma geral e contando desde os primeiros casos, o Brasil aparece na segunda posição em termos de mortes e casos. Mas, para os especialistas, não é o número acumulado desde o começo da crise que confere uma fotografia mais útil da situação.

Dados oficiais da UE indicam que, nos últimos 30 dias, o Brasil liderou no registro de novos casos, com 875 mil, quase cem mil acima do segundo colocado, os EUA. Em termos de mortes, o país também ocupa o primeiro lugar no último mês, com um total de 30,6 mil.

Nos últimos sete dias, o Brasil ainda lidera o mundo em termos de mortes, segundo os dados da OMS.

Em 14 dias, período de incubação do vírus, o Brasil também ocupa o primeiro lugar. Foram 460 mil casos neste período, 20% de todos os casos no mundo.

Mas não é apenas o número elevado que preocupa. Para as agências internacionais, não existe hoje no Brasil um plano claro de como sair da crise, a fatiga da população sobre a quarentena torna a medida cada vez mais frágil e não há um aumento suficiente no número de testes.

A exclusão do Brasil da lista de países que serão autorizados a voltar a voar para a Europa a partir do dia 1 de julho é apenas um sinal de como o mundo está reagindo. A UE promete apresentar uma nova lista com novos países a cada 15 dias. Mas diplomatas de Bruxelas confirmam à coluna que há uma forte resistência contra uma eventual inclusão do Brasil no futuro imediato.

Jamil   Chade, UOL, 2806/2020, 16:13 hs

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