segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PSIQUIATRIA DEPRIMIDA

A ciência não é política apenas em função dos usos a  posteriori, mas, principalmente, no caso da  psiquiatria, pelos usos imediatos na relação com o paciente. A depressão bipolar (TAB)  é  um signo da doença médica a qual só um médico, óbvio, está  autorizado  a  tratá-la.  Os investimentos  (não só financeiros) no  biopoder  se expressam na produção de um cérebro-objeto apassivado  e congelado  por imagens diagnósticas.Teórico-experimental,  o método  cumpre a função de melhor  observar e compreender o funcionamento dos  circuitos cerebrais.  Ele  decalca a mente de um  universo neuronal visibilisável. Um novo dualismo (pós-cartesiano) se impõe.De um lado o cérebro. Do outro, o corpo-organismo. Trata-se de uma  psicopatologia neurobiológica ou uma patologia neurobiológica ou simplesmente uma patologia neurológica. É o assassinato da psicopatologia.A psiquiatria da depressão é a depressão da psiquiatria,ou seja, o desaparecimento  de  alguma vitalidade teórica (oriunda  do século XIX) sob a égide da neurociência e os  interesses da indústria  farmacêutica.Onde se originam  as depressões? Inverte-se causa  por efeito. A  neurociência entronizou uma psiquiatria das sinapses. É uma constatação prática. O cérebro de um artista, de um cientista, de um pensador, o cérebro de um apaixonado... não estão doentes, mas sofrem o efeito do universo em volta que os  constitui.Quem vem primeiro é o universo (=matéria), não o cérebro. Ora, o projeto  neurocientífico, em que  pese  as  limitações intrínsecas  ao  método,  é por demais interessante  para ficar   restrito e aprisionado à vontade de controlar da  psiquiatria.  
(..)
A.M.

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