PSIQUIATRIA DEPRIMIDA
A ciência não é política apenas em função dos usos a posteriori, mas, principalmente, no caso da psiquiatria, pelos usos imediatos na relação com o paciente. A depressão bipolar (TAB) é um signo da doença médica a qual só um médico, óbvio, está autorizado a tratá-la. Os investimentos (não só financeiros) no biopoder se expressam na produção de um cérebro-objeto apassivado e congelado por imagens diagnósticas.Teórico-experimental, o método cumpre a função de melhor observar e compreender o funcionamento dos circuitos cerebrais. Ele decalca a mente de um universo neuronal visibilisável. Um novo dualismo (pós-cartesiano) se impõe.De um lado o cérebro. Do outro, o corpo-organismo. Trata-se de uma psicopatologia neurobiológica ou uma patologia neurobiológica ou simplesmente uma patologia neurológica. É o assassinato da psicopatologia.A psiquiatria da depressão é a depressão da psiquiatria,ou seja, o desaparecimento de alguma vitalidade teórica (oriunda do século XIX) sob a égide da neurociência e os interesses da indústria farmacêutica.Onde se originam as depressões? Inverte-se causa por efeito. A neurociência entronizou uma psiquiatria das sinapses. É uma constatação prática. O cérebro de um artista, de um cientista, de um pensador, o cérebro de um apaixonado... não estão doentes, mas sofrem o efeito do universo em volta que os constitui.Quem vem primeiro é o universo (=matéria), não o cérebro. Ora, o projeto neurocientífico, em que pese as limitações intrínsecas ao método, é por demais interessante para ficar restrito e aprisionado à vontade de controlar da psiquiatria.
(..)
A.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário