O QUE QUEREMOS
Acreditamos que a maioria dos males que afligem os homens decorre da má
organização social; e que os homens, por sua vontade e seu saber, podem fazê-
los desaparecer.
A sociedade atual é o resultado das lutas seculares que os homens
empreenderam entre si. Desconheceram as vantagens que podiam resultar para
todos da cooperação e da solidariedade. Viram em cada um de seus semelhantes
(exceto, no máximo, os membros de sua família) um concorrente e um inimigo. E
procuraram açambarcar, cada um por si, a maior quantidade de prazeres possível,
sem se preocuparem com os interesses alheios.
Nesta luta, é óbvio, os mais fortes e os mais afortunados deviam vencer, e, de
diferentes maneiras, explorar e oprimir os vencidos.
Enquanto o homem não foi capaz de produzir mais do que o estritamente
necessário para sua sobrevivência, os vencedores só podiam afugentar e
massacrar os vencidos, e se apoderar dos alimentos colhidos.
Em seguida – quando, com a descoberta da pecuária e da agricultura, o
homem soube produzir mais do que precisava para viver – os vencedores
acharam mais cômodo reduzir os vencidos à servidão e fazê-los trabalhar para
eles.
Mais tarde, os vencedores acharam mais vantajoso, mais eficaz e mais seguro
explorar o trabalho alheio por outro sistema: conservar para si a propriedade
exclusiva da terra e de todos os instrumentos de trabalho, e conceder uma
liberdade aparente aos deserdados. Estes, não tendo os meios para viver, eram
obrigados a recorrer aos proprietários e a trabalhar para eles, sob as condições
que eles lhes fixavam.
Deste modo, pouco a pouco, através de uma rede complicada de lutas de
todos os tipos, invasões, guerras, rebeliões, repressões, concessões feitas e
retomadas, associação dos vencidos, unidos para se defenderem, e dos
vencedores, para atacarem, chegou-se ao estado atual da sociedade, em que
alguns homens detêm hereditariamente a terra e todas as riquezas sociais,
enquanto a grande massa, privada de tudo, é frustrada e oprimida por um
punhado de proprietários.
(...)
Errico Malatesta in Escritos Revolucionários
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