domingo, 22 de novembro de 2015

FAZER

Tudo se resume à potência. Quando Kierkegaard fala da repetição como da segunda potência da consciência, “segunda” não significa uma segunda vez, mas o infinito que se diz de uma só vez, a eternidade que se diz num instante, o inconsciente que se diz da consciência, a potência “n”. E quando Nietzsche apresenta o eterno retorno como a expressão imediata da vontade de potência, de modo algum vontade de potência significa “querer a potência”, mas, ao contrário: seja o que for que se queira, elevar o que se quer à “enésima” potência, isto é, extrair a sua forma superior graças à operação seletiva da repetição no próprio eterno retorno. Forma superior de tudo o que é, eis a identidade imediata do eterno retorno e do super-homem. Não sugerimos qualquer semelhança entre o Dioniso de Nietzsche e o Deus de Kierkegaard. Pelo contrário, supomos, acreditamos que a diferença seja intransponível.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição

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