FAZER
Tudo se resume à potência. Quando Kierkegaard fala da
repetição como da segunda potência da consciência,
“segunda” não significa uma segunda vez, mas o infinito
que se diz de uma só vez, a eternidade que se diz num
instante, o inconsciente que se diz da consciência, a
potência “n”. E quando Nietzsche apresenta o eterno
retorno como a expressão imediata da vontade de
potência, de modo algum vontade de potência significa
“querer a potência”, mas, ao contrário: seja o que for que
se queira, elevar o que se quer à “enésima” potência, isto
é, extrair a sua forma superior graças à operação seletiva da
repetição no próprio eterno retorno. Forma superior de
tudo o que é, eis a identidade imediata do eterno retorno e
do super-homem.
Não sugerimos qualquer semelhança entre o
Dioniso de Nietzsche e o Deus de Kierkegaard. Pelo
contrário, supomos, acreditamos que a diferença seja
intransponível.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição
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