UMA MULTIPLICIDADE
Escrevemos o Anti-Edipo a dois. Como cada um de nós era vários, já era
muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o
mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que
preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente por hábito. Para
passarmos despercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas
o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é
agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo
sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que
não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância
dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá
os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol. 1
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