quinta-feira, 31 de março de 2016

VERDADE

 A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade
OUTRO LUGAR

O mundo é a casa errada do homem. Um simples resfriado que a gente tem, um golpe de ar, provam que o mundo é um péssimo anfitrião. O mundo não quer nada com o homem, daí as chuvas, o calor, as enchentes e toda sorte de problemas que o homem encontra para a sua acomodação, que aliás, nunca se verificou. O homem deveria ter nascido no Paraíso.
(...)
Nelson Rodrigues

YO-YO MA - PIAZZOLA - Libertango


PETISMO COMO DOENÇA

Como já foi dito, o petismo é uma doença psicossocial crônica, até o momento incurável, e que conta com fatores múltiplos na produção da sua etiologia (causa). Vejamos alguns: 1-o esquerdismo marxista em sua versão dualista e reducionista sobre a realidade social; 2-a filosofia historicista, e, portanto, teleológica, em seus refinamentos intelectuais e acadêmicos;3-o fundamentalismo da pobreza, alimentado pela ética dos pobres à la Madre Teresa de Calcutá, em aliança com a Irmã Dulce;4-o cristianismo revisitado e buscando reparação universal ante os horrores emocionais e viscerais e as carnificinas espirituais cometidas ao longo da história do Ocidente;5-o grande buraco negro das subjetividades frustradas, decepcionadas e ressentidas em relação à traição do partido dos trabalhadores imposta aos trabalhadores e ao cidadão em geral;6-a denegação da morte simbólica do Partido Vermelho fente ao desmoronamento de um mega-projeto social para o Brasil erigido logo após o advento do período pós-ditadura  de 1964;7- a absoluta falta de perspectivas sociopolíticas para o Brasil em face do baixíssimo nível ético do congresso nacional e das opções político-partidárias atuais;8-a dissolução do maniqueísmo dos conceitos de esquerda e direita e a substituição destes por um campo político lusco-fusco, onde se confundem ideologias diametralmente opostas como se fossem a mesma coisa;9-a morte do proletariado como organização social capaz de derrotar o capitalismo segundo o ideário marxista calcado no "acirramento" das contradições de classe;10- o niilismo subjetivo como espelho da modernidade e ao mesmo tempo, a incapacidade de enxergar para além do capital, não só como categoria econômica, mas como "operador semiótico"; sendo assim, a admissão "forçada" do capital como produtor e sentido único das nossas vidas.

A.M.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Todo cuidado é pouco com o tempo do verbo, quando se trata de um casal. Agora é, daqui a pouco já era.

Otto Lara Resende
A IMPLOSÃO EXPLOSIVA

(...)A aliança das empreiteiras com governos no Brasil é antiga. No meu entender, é responsável pela fragilidade de nosso planejamento. São elas que ditam o rumo. Estavam organizadas num cartel chamado Sport Clube Unidos Venceremos. Unidos perderam. E naufragaram junto com o governo do PT que as levou a um nível de sofisticação e deboche sem paralelo na História. Os próprios apelidos com que os diretores da Odebrecht tratavam os políticos agraciados revelam como viam todo o sistema de doações como uma farsa. O discurso público era de viabilizar eleições democráticas.
(...)
Fernando Gabeira, 27/03/2016

AINDA DÁ TEMPO...


terça-feira, 29 de março de 2016

Aceitarás o amor como eu o encaro ?…
…Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza… a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.


Oswald de Andrade 
Não entendo o porque das pessoas pensarem sempre no pior e não no mais provável que é pior ainda.

George Carlin

EMIL NOLDE


segunda-feira, 28 de março de 2016

FIGURAS DO RESSENTIMENTO

O homem do ressentimento traveste sua impotência em bondade, a baixeza temerosa em humildade, a submissão aos que odeia em obediência, a covardia em paciência, o não poder vingar-se em não querer vingar-se e até perdoar, sua própria miséria em aprendizagem para a beatitude, o desejo de represália em triunfo da justiça divina sobre os ímpios. O reino de Deus aparece como produto do ódio e da vingança dos fracos. Incapaz de enfrentar o que o cerca, o homem do ressentimento inventa, para seu consolo, o outro mundo. Assim também procede o "filisteu da cultura’, que só pode afirmar-se através da negação do que considera seu oposto: a própria cultura. Ou então, o homem da ciência, que a si mesmo opõe um outro: o pesquisador, que pretende comportar-se de maneira impessoal, desinteressada e neutra diante do mundo, para chegar a abordá-lo com objetividade. E ainda o filósofo que, na elaboração de suas idéias, acredita poder desvinculá-las da própria vida, não se reconhecendo como advogado de seus preconceitos.
(...)
F. Nietzsche
Quando uma pessoa sofre um delírio, se chama loucura. Quando muitas pessoas sofrem um delírio, isso se chama religião.

Robert M. Pirsig

domingo, 27 de março de 2016


OUTRA VOLTA DO PARAFUSO

Pela primeira vez, no Brasil, um presidente eleito pelo voto direto foi afastado do cargo, por envolvimento em denúncias de corrupção. No dia 29 de dezembro de 1992, o "caçador de marajás" Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, foi expulso da Presidência.
As denúncias surgiram em seu próprio quintal. Em fevereiro de 1992, o empresário Pedro Collor, irmão e arquiinimigo do presidente, revelou os detalhes de uma rede de tráfico de influências no governo. As denúncias, investigadas por um Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso, levaram à descoberta da rede de corrupção. Na campanha, Paulo César Farias, o PC, tesoureiro do então candidato, arrecadara contribuições milionárias de empresários, com o argumento de que Collor era a única alternativa viável para derrotar Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).
Após a posse de Collor, as chamadas "sobras de campanha" - somadas a uma fortuna obtida através de transações com usineiros - foram depositadas na conta da EPC, empresa de Paulo César Farias. No decorrer do governo, o esquema PC continuou arrecadando propinas, engordando as contas bancárias de políticos e pagando as despesas pessoais de Collor e de sua mulher, Rosane. Com a extinção do cheque ao portador, o esquema PC começou a usar "fantasmas". Estes movimentaram pelo menos US$ 32,2 milhões. Nas ruas das principais cidades do país, estudantes - os caras-pintadas (com as cores verde e amarelo no rosto) - pediam ao lado de manifestantes de outros setores da sociedade a saída de Collor, num processo que terminaria no impeachment. Nas passeatas do movimento dos caras-pintadas, eles cantavam o jingle "Ai, ai, ai, ai, se empurrar o Collor cai".
Concluído o relatório da CPI, Collor foi julgado pela Câmara, que, em 29 de setembro de 1992, autorizou o processo de impeachment por 441 votos a 38. A Casa autorizou o Senado a processar Collor, por crime de responsabilidade, devido ao seu envolvimento no esquema de corrupção montado por PC Farias. No dia 2 de outubro, após 932 dias de governo, Collor foi afastado da Presidência. Sob vaias e de mãos dadas com dona Rosane, deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos. No mesmo dia, o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu interinamente o governo. O destino de Collor seria decidido no Senado, mas manifestantes já festejavam nas ruas gritando o slogan "Fora, Collor! Fora, Collor". Em São Paulo, o povo ocupou o Vale do Anhangabaú para comemorar a saída do ex-governador de Alagoas da Presidência da República.
Antes do julgamento no Senado, mais escândalo: Collor e PC forjaram documentos para sugerir que aquele dinheiro vinha de um empréstimo para campanha feito no Uruguai. O presidente afastado demonstrou fôlego, negando as acusações até o fim. E ainda convocou os eleitores a vestirem verde e amarelo, no domingo anterior ao julgamento. Em resposta, o povo vestiu preto. No dia da votação, ele renunciou ao mandato. Na mesma data, o dia 29 de dezembro, Itamar Franco assumiu em definitivo a Presidência do país. E, por decisão do Senado (76 votos a 3), Collor acabaria cassado, sendo proibido de exercer cargos públicos por oito anos.

O Globo, 17/03/2016, 19:17 hs

ABECEDÁRIO DE GILLES DELEUZE - Alegria


Amar é sofrer. Para evitar sofrer, não se pode amar. Mas, então, sofre-se por não se amar.

Woody Allen
ATENÇÃO!

Ai! Como soa mal a palavra 'virtude' em sua boca! E quando dizem 'Sou justo', é num tom que soa como 'Estou vingado!'
Por sua virtude, querem arrancar os olhos de seus inimigos e só se elevam para rebaixar os outros.
(...)
Nietzsche

ELIZETH CARDOSO & EMILIO SANTIAGO - Louco


FAZER DIZER

Segundo uma pragmática linguística, é possível conceber o diagnóstico psiquiátrico como um enunciado. Desse modo, ele traz em si mesmo a palavra-de-ordem usada como função-linguagem necessária para fazer dizer: "você é bipolar", ou qualquer outro diagnóstico, qualquer outro sintoma disfarçado de diagnóstico. Transtorno do pânico não é diagnóstico (mesmo sendo), não é doença, mas um sintoma. Refere-se a um sofrimento (talvez indizível...), não mais. Contudo, ele se inscreve no corpo do paciente como "cogito-doença" aprisionado à grade biomédica ( a CID-10) o que irá torná-lo refém da clínica psicopatológica numa inserção social prévia, ou, mais precisamente, na moral. Assim, pode-se afirmar que todo diagnóstico psiquiátrico tem um a priori moral. Ele se sustenta na avaliação da conduta dita patológica em termos de adequação (ou não) aos códigos sociais vigentes. 

A.M.
SEM ROSTO

(...) Desfazer o rosto não é uma coisa à toa. Corre-se aí o risco da loucura: é por acaso que o esquizo perde ao mesmo tempo o sentido do rosto, de seu próprio rosto e do dos outros, o sentido da paisagem, o sentido da linguagem e de suas significações dominantes? É porque o rosto é uma organização forte. Pode-se dizer que o rosto assume em seu retângulo ou em seu círculo todo um conjunto de traços, traços de rostidade, que ele irá subsumir e colocar a serviço da significância e da subjetivação. Que é um tique? É precisamente a luta sempre recomeçada entre um traço de rostidade, que tenta escapar da organização soberana do rosto, e o próprio rosto que se fecha novamente nesse traço, recupera-o, barra sua linha de fuga, impõe-lhe novamente sua organização. (Na distinção médica entre o tique clônico ou convulsivo, e o tique tônico ou espasmódico, talvez seja necessário ver no primeiro caso o predomínio do traço de rostidade que tenta fugir; no segundo caso, o da organização de rosto que procura fechar novamente, imobilizar). Entretanto, se desfazer o rosto é um grande feito, é porque não é uma simples história de tiques, nem uma aventura de amador ou de esteta. Se o rosto é uma política, desfazer o rosto também o é, engajando devires reais, todo um devir-clandestino. Desfazer o rosto é o mesmo que atravessar o muro do significante, sair do buraco negro da subjetividade. O programa, o slogan da esquizoanálise vem a ser este: procurem seus buracos negros e seus muros brancos, conheçam-nos, conheçam seus rostos, de outro modo vocês não os desfarão, de outro modo não traçarão suas linhas de fuga.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol 3

ANTONIO PALMIERI


O PROCESSO

Dilma escancara sua fragilidade cada vez que repete “jamais renunciarei”. Na verdade, a presidente se encontra numa situação desesperadora. A única coisa que não a abandona é o medo de ser abandonada. No momento, Dilma vive o pior tipo de solidão, que é a companhia dos áulicos.

Se perguntarem a qualquer congressista ou ministro quais são os três temas prioritários da agenda brasiliense, o sujeito dirá: impeachment, impeachment e impeachment. Chegou-se a essa conjuntura monotemática por uma razão singela: o risco de Dilma ser impedida de exercer o cargo cresceu enormemente.

O pedido de impeachment deve chegar ao plenário da Câmara antes do final de abril. Ali, madame precisaria de 172 votos para livrar-se da encrenca. E seus operadores políticos já admitem reservadamente que esse apoio mínimo pode faltar à presidente da República.

Repetindo: para sepultar o pedido de impeachment, Dilma teria de contar com irrisórios 33,5% dos votos dos 513 deputados com assento no plenário da Câmara. E ela receia que até esse apoio ínfimo pode lhe ser negado. Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas a base congressual de Dilma sofre um grave apagão.

Herdada de Lula, a coligação partidária que supostamente dá suporte a Dilma é uma aliança baseada em interesse$ inconfessáveis. E quando um matrimônio é selado na base do interesse vira patrimônio. Sem mensalão nem petrolão, a lealdade dos governistas ficou, digamos, meio cansada.

O PMDB, em cujos quadros se abrigam alguns dos mais notórios investigados da Lava Jato, deve desembarcar nesta terça-feira (29). O PP, a legenda que mais se lambuzou na petrorroubalheira, ameaça fazer o mesmo. O PR, um cartório controlado pelo mensaleiro Valdemar Costa Neto viria a seguir…
(...)

Do Blog do Josias de Souza,27/03/2016,05:30 hs
CERTAS PALAVRAS

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.
E tudo é proibido. Então, falamos.


Carlos Drummond de Andrade
POTÊNCIAS

(...) E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base. Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.
Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, "Por aqui, por aqui".
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a geradora de acordos e idéias pequenas e incipientes. Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus Pensamentos.
(...)
Mahatma Gandhi

sábado, 26 de março de 2016

GRANDES ESCRITOS


Estamos todos ferrados. É bom lembrar disto.

George Carlin
SABOTAGEM DO DESEJO

É importante que os termos "senso comum" e "bom senso" sejam concebidos como práticas sociais, e não como conceitos. É que os conceitos podem ser tomados como abstração, idealização, mas as práticas sociais não. Isso é fácil de verificar na psiquiatria fármaco-biológica. Ao prescrever um remédio químico, o psiquiatra intervêm na vida concreta do paciente, incluindo efeitos terapêuticos, colaterais, adversos, sugestivos, transferenciais, etc, biopoderes, enfim, que produzem subjetividades. Daí, práticas. O Senso Comum e o Bom Senso funcionam embutidos, escondidos em discursos grávidos de verdades, sejam científicas, tecnológicas, religiosas, filosóficas, e tantas mais quanto for necessário o controle. Tal controle é o índice clínico e semiótico para se poder dizer; "Ah, ele está melhor!" No entanto, para além da psiquiatria em sua explicitude clínica e do seu primarismo teórico, as psicoterapias lastreadas pelo senso comum e pelo bom senso também geram efeitos de controle mental não tão explícitos, claro, mas também contrários à produção desejante de singularidades existenciais.

A.M.
NUM ADRO

Nuvens passam
O olhar não percebe o barulho dos astros


Francisco Alvim

RODRIGO AMARANTE - Errare Humanum Est


NA IDEIA

Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.
(...)
Fernando Pessoa
DESERÇÃO

No instante em que mais precisa de apoio congressual, Dilma Rousseff descobre que mesmo os aliados que julgava leais estão presos ao seu governo por grilhões de barbante. O Planalto farejou um problema adicional além da perspectiva de desembarque do PMDB. Deputados de legendas de porte médio como PP, PR e PSD também pressionam as cúpulas partidárias para romper com o governo do PT.

No início do seu primeiro mandato, quando ainda fazia pose de faxineira ética e era uma governante popular, Dilma tratava os aliados a pontapés. Hoje, ao perceber que a presidente se esforça para acomodar o investigado Lula em sua equipe e amarga uma taxa de reprovação de 69%, os aliados é que cutucam Dilma com os pés para ver se ela ainda morde.

O risco de debandada em série empurra o governo para uma estratégia que pode ser definida como fisiologismo de guerrilha. Em vez de negociar com os dirigentes, o governo oferecerá cargos a grupos partidários. Com isso, imagina que conseguirá manter do seu lado pedaços dos partidos que eventualmente optarem pela deserção.
(...)
Do Blog do Josias de Souza,26/05/2016, 04:02 hs

IRENE SHERI


APRENDER, DESEJAR

Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
(...)
Rubem Alves
INSÂNIA DISCURSIVA

“A Operação Lava Jato é uma necessidade para esse país ... ... agora, eu queria que vocês procurassem a força-tarefa, procurassem o juiz Moro pra saber se eles estão discutindo quanto essa operação já deu de prejuízo à economia brasileira.”

Lula, ex-presidente da república, em discurso para sindicalistas, São Paulo, 23/03/2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

JOHAN CRUYFF


O FORA

É sabido que grupos completos de pensamento atravessam instantaneamente as nossas cabeças, na forma de certos sentimentos, sem tradução para a linguagem humana, menos ainda para uma linguagem literária... porque muitos dos nossos sentimentos, quando traduzidos numa linguagem simples, parecem completamente sem sentido. Essa é a razão pela qual eles nunca chegam a entrar no mundo, no entanto todos os tem.
(...)
Fiódor Dostoiévski
VELOCIDADE DA IMAGINAÇÃO

(...) Quando falo de resistência revolucionária ou defesa popular estou chegando à raiz de uma invenção científica popular essencial. Lembro-me dos discursos no Anfiteatro Richelieu da Sorbonne, antes da ocupação do Teatro Odéon, logo no início de Maio de 68. Entrei; estava superlotado. Ouvi um sujeito, provavelmente um comunista, dizer: “Li nos muros da Sorbonne: ‘A imaginação no poder!’ Isso não é verdade, é a classe operária!” Respondi: “Portanto, camarada, você nega a imaginação da classe operária”. Era claríssimo: um referindo-se a uma horda capaz de tomar o poder como uma massa de soldados, e outro (eu) referindo-se à imaginação ativa.
(...)
Paul Virilio

ALÉM DA IMAGINAÇÃO - O Berço do Mal


FALAR

A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.

A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.

Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.


Ferreira Gullar

MARC CARY FOCUS TRIO - King Tut Live


VERMELHO É A COR MAIS QUENTE

(...) O governo está no vermelho profundo, como lava fumegante de vulcão. Mas o nome de Dilma endividada não irá para a lista negra do SPC – somente os nomes dos brasileiros comuns e sem foro privilegiado, que não podem apelar ao Supremo Tribunal Federal. Esse deficit do governo federal está subestimado, porque não leva em conta os R$ 6 bilhões da renegociação da dívida com os Estados. Além disso, todos os planejamentos do ministro Nelson Barbosa contam com a injeção, no caixa, de uns R$ 10 bilhões da CPMF. Companheiros e companheiras, o rombo do governo Dilma este ano deve superar os R$ 100 bilhões. É o descrédito na capacidade desse governo de recuperar ou estabilizar a economia que acentua a insatisfação geral e as olheiras de Dilma. Não é só o nojo com a corrupção.
(...)
Ruth de Aquino, Época, 24/03/2016, 20:02 hs
Eu acho que o sexo é uma coisa muito bonita entre duas pessoas. Entre cinco, então, é fantástico.

Woody Allen

GRANDES ESCRITOS


SOBRE O ABISMO

Em Saúde Mental, mais precisamente na prática clínico-psicopatológica, a utilização do modelo das formas sociais "Senso Comum" e "Bom Senso", produz efeitos de normalização ("repressão") social sobre os pacientes. São técnicas de adaptação consentida ao horror dos tempos. A psiquiatria clínica de marca biologizante, as psicoterapias de variados matizes, inclusive os científicos, etc, operam desse modo; ou melhor, determinam um modo de perceber o outro, o paciente. "Você tem tudo, não entendo por que está deprimido". Colapso do método da Consciência como visão do mundo estreitada em perplexidades improdutivas e burocracias do pensamento.  Ao contrário, e bem mais além, trabalhando uma clínica que busque afirmar diferenças, mesmo e principalmente desconcertantes, criando multiplicidades num campo social aberto, o senso comum e o bom senso tendem a ser considerados como "falsos problemas" instilados pela cultura-em-nós. Nos seus lugares,  linhas de saberes novos, linhas de potência existencial, sensibilidades fora do lugar, linhas de vida, sutis e por isso nem sempre visíveis ou mensuráveis, compõem rizomas difíceis de serem expressos, mas que insistem. Então, o trágico segue o ato inovador como alegria sem culpa.

A.M.

DI CAVALCANTI


NÃO HAVERÁ GOLPE, MAS "IMPEDIMENTO"

Os americanos chamam de “pato manco”. Os britânicos, ironicamente, de “rainha da Inglaterra” – desde que o país, na Revolução Gloriosa, se tornou uma monarquia parlamentarista, onde quem manda é o primeiro-ministro. Existem várias expressões para definir o governante que, em pleno mandato, por alguma circunstância dramática, perde a autoridade mínima para governar. A presidente Dilma Rousseff vive uma situação assim. Ela não consegue aprovar no Congresso as medidas necessárias para combater a crise econômica. A base aliada começa a desertar. Sete em cada dez brasileiros são favoráveis a seu impeachment. Na surdina, o vice-presidente Michel Temer articula um novo governo, ao lado do tucano José Serra. Oposicionistas como o ex-presidente Fernando Henrique pediram a renúncia de Dilma, e alguns correligionários, em privado, acharam que poderia ser uma boa solução. “Jamais renunciarei”, afirmou Dilma, diante de uma plateia de 600 convidados reunida, na terça-feira, dia 22, no Palácio do Planalto. Ao verbalizar que não sucumbirá à pressão popular e política, Dilma evidencia exatamente o contrário. Mostra quão profundamente frágil se encontra.

Naquela terça-feira, num encontro que parecia um comício, Dilma falou na sede do governo para juristas, advogados, magistrados, defensores públicos e políticos. O “Encontro com Juristas pela Legalidade e em Defesa da Democracia” foi milimetricamente coreografado como parte de uma estratégia elaborada pelo (até agora) ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, pelo ex-presidente Lula e pela própria Dilma. A estratégia tem um braço retórico e um braço parlamentar. O braço retórico inclui associar o impeachment – um processo democrático previsto na Constituição brasileira – com a palavra “golpe”. De preferência, fazendo um paralelo com outras épocas do país, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, ou a ditadura militar, instalada em 1964. Inclui também criar um antagonismo entre o governo e o Judiciário, personificado na figura do juiz federal Sergio Moro. E, agora, também à Ordem dos Advogados do Brasil, que se manifestou favoravelmente ao impeachment.

Em sua fala, Dilma amparou-se numa claque formada por Cardozo, Wagner e os também ministros Eugênio Aragão (Justiça) e Edinho Silva (Comunicação Social). Dilma discursou por pouco mais de 20 minutos. Até tentou esconder a angústia com o momento político ao adotar um tom de descontração no início de sua fala. Começou brincando que, em consideração ao estômago e à fome dos convidados, faria um agradecimento geral para ser breve. O aparente senso de humor não resistiu até o final do discurso. A certa altura, em tom emocional, Dilma começou a dar explicações daquilo que diz não ter feito. “Dirijo-me a vocês com a consciência tranquila de não ter cometido qualquer ato ilícito, qualquer irregularidade que leve a caracterizar crime de responsabilidade.” Até que se exaltou e ergueu o tom. “Condenar alguém por um crime que não praticou é uma injustiça brutal, uma ilegalidade. Já fui vítima dessa injustiça uma vez, durante a ditadura. E lutarei para não ser vítima de novo em plena democracia. O que está em curso é um golpe contra a democracia.”

Em seu discurso, Dilma apelou para vários mitos. O já referido, do “golpe”. A confusão entre crime de responsabilidade, que leva ao impeachment – um processo político-administrativo –, e crime comum. O de que a culpada pela crise é a oposição, e não o governo. E a de que há um complô da Justiça. O que une tudo isso é a comparação, bastante forçada, entre a época atual e o período que antecedeu o golpe militar de 1964. Se o Congresso, de acordo com a Constituição, decidir pelo impeachment, o Brasil não se transformará numa ditadura. Assumirá o vice Michel Temer, como manda a lei. Em 2018, haverá novas eleições. Tudo de acordo com as regras democráticas.

Talita Fernandes, Ana Clara Ribeiro e Aline Ribeiro, Época, 24/03/2016, 21:14 hs

PAIXÃO


A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado.

George Bernard Shaw
ONTOLOGIA SUMARÍSSIMA


Umas quatro ou cinco coisas, 
no máximo, são reais. 
A primeira é só um gás 
que provoca a sensação 
de que existe no mundo 
uma profusão de coisas. 


A segunda é comprida, 
aguda, dura e sem cor. 
Sua única serventia 
é instaurar a dor. 


A terceira é redondinha, 
macia, lisa, translúcida, 
e mais frágil do que espuma. 
Não serve para coisa alguma. 


A quarta é escura e viscosa, 
como uma tinta. Ela ocupa 
todo e qualquer espaço 
onde não se encontre a quinta 
(se é que existe mesmo a quinta), 
a qual é uma vaga suspeita 
de que as quatro acima arroladas 
sejam tudo o que resta 
de alguma coisa malfeita 
torta e mal-ajambrada 
que há muito já apodreceu. 


Fora essas quatro ou cinco 
não há nada, 
nem tu, leitor, 
nem eu. 


Paulo Henriques Britto
A MORTE ANUNCIADA

O cronista Nelson Rodrigues dizia que morrer significa, em última análise, um pouco de vocação. Jurada de morte, a gestão Dilma finge estar cheia de vida. Mas o governo é um vivo tão pouco militante que o PMDB decidiu enviar-lhe coroas de flores e atirar-lhe na cara a última pá de cal. Deve fazer isso na próxima terça-feira, quando seu diretório nacional planeja desligar da tomada o aparelho que mantém a respiração artificial do governo.

A situação da gestão Dilma é de uma simplicidade estarrecedora. Fraca, inepta e impopular, a presidente cavalga uma megacrise de três cabeças —ética, econômica e política. Sua administração encontra-se em estado terminal. Até o diretório do PMDB no Rio, que segurava a vela na porta da UTI, optou pelo desembarque. Considerando-se o faro aguçado da caciquia que controla o partido, se o PMDB decidiu tomar distância é porque o governo chegou à fase da decomposição. Outras legendas virão atrás.

Ah, o PMDB. Isso é que é partido eficiente! Ajuda eleger, vira cúmplice no assalto às arcas públicas, rompe fazendo cara de nojo e prepara, estalando de pureza moral, a transição que levará Michel Temer à poltrona de presidente da República com o apoio da oposição. Exausto de ajudar Dilma, o principal aliado do Planalto concluiu que chegou a hora de substitui-la. E não há Lula capaz de fazer ao PMDB oferta tão tentadora quanto a troca de sete cadeiras de ministro sob Dilma pela poltrona de presidente num cada vez menos hipotético governo-tampão de Temer. A essa altura, só há uma força em condições de deter os planos do PMDB: a Lava Jato.

Do Blog do Josias de Souza, 25/03/2016, 04:07 hs
ENCONTROS

Há pessoas que nos fazem voar. A gente se encontra com elas e leva um bruta susto (…) elas nos surpreendem e nos descobrimos mais selvagens, mais bonitos, mais leves, com uma vontade incrível de subir até as alturas, saltando de penhascos. Outras, ao contrário, nos fazem pesados e graves. Pés fincados no chão, sem leveza, incapazes de passos de dança. Quanto mais a gente convive com elas mais pesados ficamos.
(...)
Rubem Alves

quinta-feira, 24 de março de 2016

AZYMUTH - Águas de Março


um poeta,
indagado sobre política
e políticos,
respondeu:
- não estou desinteressado.
antes,
eles é que são
desinteressantes.

Régis Bonvicino

ERIK SATIE - Trois Gymnopédies


O PODER MATA

O desejo é fluxo que se conecta com outro fluxo, com outros fluxos, e assim por diante, ao infinito.Ele é sempre agenciado (compõe-se de linhas múltiplas) mesmo que disso não se saiba. Quando é interrompido (impotência em desejar) dá-se uma cristalização, um endurecimento das suas linhas de funcionamento vital, em prol do que chamamos de poder. O poder assassina. Ele é regido e mantido pelo universo da representação. Ou seja, funciona como identidade da consciência e do eu, o que, em termos do campo social, chama-se de Senso Comum e Bom Senso. Estas categorias são formas sociais (instituições) operando na perpetuação do par Eu-Consciência. No mundo ocidental cristão, os modos de subjetivação tendem a girar em torno desse a priori do pensamento. Basta analisar a política vigente e suas formações metastáticas. Ora, se, como diz Deleuze, o Senso Comum identifica e reconhece, enquanto o Bom Senso prevê, não haverá lugar para a criação, para o novo, para uma outra política, exceto se trabalharmos com os paradoxos da linguagem. É aí onde a Poesia, a Arte e a Loucura se expressam e se afirmam como verdades móveis para uma nova terra.

A.M.
O pessimista afirma que já atingimos o fundo do poço, o otimista acha que dá pra cair mais.

Woody Allen

JONAS GERARD


quarta-feira, 23 de março de 2016

ELOGIO DO MAL

1
A uma certa distância
todas as formas são boas.
Em cada coisa, um desvão;
em cada desvão não há nada.

À mão direita, a explicação
perfeita das coisas. À esquerda,
a certeza do inútil de tudo.
Ter duas mãos é muito pouco.

Por isso, por isso os nomes,
os nomes que embebem o mundo,
e os verbos se fazem carne,
e os adjetivos bárbaros.

2
O mundo se gasta aos poucos.
A coisa se basta a si mesma,
mas não basta ao que pensa
um mundo atulhado de coisas

que se apagam sem pudor,
que se deixam dissipar
como quem não quer nada.
Existir é muito pouco.

Por isso, por isso os nomes,
os nomes que se engastam nas coisas
e sugam o sangue de tudo
e sobrevivem ao bagaço

e negam a tudo o direito
de só durar o que é duro,
e roubam do mundo a paz
de não querer dizer nada.

3
Bendita a boca,
essa ferida funda e má.


Paulo Henriques Britto

RODRIGO AMARANTE - Mistério do Planeta


SANTA ODEBRECHT

O empresário Marcelo Odebrecht sucumbiu e aceitou negociar uma delação premiada com os investigadores da Lava Jato. Preso desde a metade do ano passado, ele vinha tentando obter habeas corpus na Justiça, mas sem sucesso. Nas últimas semanas, seus advogados reclamavam das más condições das instalações da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso.

Em setembro do ano passado, durante audiência na CPI da Petrobras, Odebrecht criticou os delatores e os chamou de “dedos duros”. Ainda comentou: "Na infância, eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que quem fez o fato", afirmou. Os pedidos do pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, pesaram na decisão dos advogados. A empreiteira também sugeriu a outros executivos que aceitem realizar delações.

Apesar da iniciativa, é importante frisar que o Ministério Público Federal tem de negociar com os delatores os termos das colaborações premiadas. Aliás, o que os procuradores querem são informações da empreiteira na Suíça. Querem listas com pagamentos a políticos por meio de offshores. Informações de transações no Brasil já estão praticamente esquadrinhadas.

Murilo Ramos, Época, 22/03/2016, 21:56 hs

SACANAGEM NA REPLÚBLICA DAS BANANAS


4 VEZES DELEUZE

Cada vez que se ouve: "Ninguém pode negar…" (ou) "Todo mundo há de reconhecer que…", sabemos que vem uma mentira ou um slogan.

Os mal-entendidos são frequentemente reações de bobagem raivosa. Há pessoas que não se sentem inteligentes senão quando descobrem “contradições” em um pensador.

O que me interessa são as relações entre as artes, a ciência e a filosofia. Não há nenhum privilégio de uma dessas disciplinas em relação a outra. Cada uma delas é criadora.

Escreve-se sempre para dar a vida, para liberar a vida aí onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga.

GRANDES ESCRITOS


terça-feira, 22 de março de 2016

PMDB NA ESPREITA

(...) Um dos integrantes do grupo de Temer se diverte: “No momento, tudo o que o Michel tem a fazer é se trancar no Jaburu e só sair de lá para alimentar as emas que passeiam pelo gramado.” Convém desperdiçar um naco do tempo do vice com rezas e mandingas. Com tantas delações pairando sobre a Lava Jato, nada impede que uma delas caia sobre o gramado do Jaburu.

Do Blog do Josias de Souza, 22/03/2016, 05:12 hs

Olho por olho, e o mundo acabará cego.

Mahatma Gandhi

CANDIDO PORTINARI


segunda-feira, 21 de março de 2016

QUER VER?

Escuta



Francisco Alvim
NOVE INQUÉRITOS

A Operação Lava Jato vai acabar empurrando o senador Renan Calheiros para dentro do livro dos recordes. Presidente do Senado e do Congresso, visto pelo Planalto como derradeiro aliado de Dilma no PMDB, Renan já responde a um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove inquéritos relacionados à Operação Lava Jato. Eram seis. Mas o ministro do Teori Zavascki, relator dos processos sobre desvios na Petrobras no STF, instaurou mais três. Fez isso a pedido da Procuradoria-Geral da República.

A exemplo do que já ocorre com Eduardo Cunha, presidente da Câmara, Renan prepara-se para atuar no processo de impeachment aberto contra Dilma como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Antigamente, costumava-se dizer: Onde vamos parar? Hoje, seria mais adequado indagar: onde vão detê-los?

Do Blog do Josias de Souza, 21/03/2016, 20:42 hs

JOÃO BOSCO - Jazidas


25ª HORA

A Polícia Federal (PF) cumpre, desde a madrugada desta segunda-feira (21) a 25ª fase da Operação Lava Jato em Lisboa, em Portugal. Esta foi a primeira operação internacional realizada pela Lava Jato e prendeu preso Raul Schmidt Felippe Junior, investigado pelo pagamento de propinas aos ex-diretores da estatal petrolífera Renato de Souza Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada. A prisão é preventiva e não tem prazo pré-determinado para vencer.

A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão envolvendo Schimidt, mas não informou os locais.

O preso é brasileiro e também possui naturalidade portuguesa. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), ele vivia em Londres, onde mantinha uma galeria de arte, e se mudou para Portugal após o início da operação, em virtude da dupla nacionalidade.

O investigado estava foragido desde julho de 2015, quando foi expedida a ordem de prisão. Seu nome havia sido incluído no alerta de difusão da Interpol em outubro do ano passado, segundo o MPF. 

Segundo as investigações, além de atuar como operador financeiro no pagamento de propinas aos agentes públicos da Petrobras, Raul Schmidt também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração de plataformas da estatal.
(...)

Adriana Justi, do G1, PR, 21/03/2016,06:58 hs
DISFARCES

O desdém não se revelava por nenhuma expressão exterior; era a ruga sardônica do coração. Por fora, havia só a máscara imóvel, o gesto lento e as atitudes tranqüilas. Alguns poderiam temê-lo, outros detestá-lo, sem que merecesse execração nem temor. Era inofensivo por temperamento e por cálculo. Como um célebre eclesiástico, tinha para si que uma onça de paz vale mais que uma libra de vitória.
(...)
Machado de Assis

domingo, 20 de março de 2016

OUTRA COISA


Canção do amor que chegou

Eu não sei, não sei dizer
Mas de repente essa alegria em mim
Alegria de viver
Que alegria de viver
E de ver tanta luz, tanto azul!
Quem jamais poderia supor
Que de um mundo que era tão triste e sem cor 
Brotaria essa flor inocente
Chegaria esse amor de repente
E o que era somente um vazio sem fim
Se encheria de cores assim

Coração, põe-te a cantar
Canta o poema da primavera em flor
É o amor, o amor chegou 
Chegou enfim


Vinicius de Moraes

ALEXEI ZAITSEV


AS ROSAS NÃO FALAM

Só a palavra nos põe em contato com as coisas mudas. A natureza e os animais são desde logo prisioneiros de uma língua, falam e respondem a signos, mesmo quando se calam; só o homem consegue interromper, na palavra, a língua infinita da natureza e colocar-se por um instante diante das coisas mudas. A rosa informulada, a ideia da rosa, só existe para o homem.
(...)
G. Agamben
Não! Nunca me zango! Nenhum ser humano pode fazer alguma coisa tão importante que mereça isso. A gente se zanga, com as pessoas quando acha que seus atos são importantes. Não sinto mais isso.
(...)
Carlos Castaneda

GUILHERME ARANTES - Coisas do Brasil & Marina


ENQUANTO HÁ TEMPO

O jornal britânico "The Observer", edição dominical do "The Guardian", defendeu a saída da presidente Dilma Rousseff e a convocação de novas eleições no país.

O editorial publicado neste domingo (20) cita que a preparação brasileira para a realização dos Jogos Olímpicos em agosto, no Rio, se dá em meio a uma crise econômica, o pânico com a epidemia do vírus da zika, protestos e um escândalo de corrupção -eis por que o jornal traça um paralelo com a "maratona" que será necessária para resolver a crise atual.

"Uma preocupação óbvia é que esses protestos pró e contra o governo, se perderem o controle, possam degenerar em violência generalizada, levando ao risco de intervenção militar", diz o texto.

Para o "Observer", a democracia brasileira, restabelecida em 1985, "ainda não é uma planta tão robusta que não possa ser desenraizada de novo por uma combinação de fracasso político e emergência econômica generalizados".

Por isso, finaliza o editorial, "o dever de Dilma é simples: se ela não pode restabelecer a calma, deve convocar novas eleições -ou sair".

Do site O Popular, 20/03/2016, 16:46 hs
As crianças não têm ideias religiosas, mas têm experiências místicas. Experiência mística não é a de seres de um outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza ...
(...)
Rubem Alves

ALÉM DA IMAGINAÇÃO - Upgrade


EXP

mal vc abre os olhos
e uma voz qq vem lhe dizer
o q fazer o q comer
como vestir

todos querem se meter
numa coisa que só
a vc compete:
viver a sua vida

deletar, destruir, detonar
esses atravessadores

a vida é uma só
e a única verdade
é a sua experiência

não terceirize sua vida
viva viva viva
essa é a sua vida


Chacal
A IMANÊNCIA, UMA VIDA

Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não se dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta, é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.
(...)
Fernando Pessoa
As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais.

Woody Allen

GRANDES ESCRITOS


O QUE É AMAR

O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. 
(...)
Fabrício Carpinejar
SOLIDÃO CÓSMICA

Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo que conhecemos muito bem. Se um cientista alienígena, recém-chegado às imediações de nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente diferentes. Desse ponto distante de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum interesse especial. Para nós, no entanto, ela é diferente. Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, "superastros", "líderes supremos", todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol. A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes. Nossas atitudes, nossa pretensa importância de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
 (...)
Carl Sagan

JEREMY MANN