LINGUAGEM E COMANDO
A professora não se questiona quando interroga um aluno, assim como
não se questiona quando ensina uma regra de gramática ou de cálculo. Ela
"ensigna", dá ordens, comanda. Os mandamentos do professor não são
exteriores nem se acrescentam ao que ele nos ensina. Não provêm de
significações primeiras, não são a conseqüência de informações: a ordem se
apóia sempre, e desde o início, em ordens, por isso é redundância. A
máquina do ensino obrigatório não comunica informações, mas impõe à
criança coordenadas semióticas com todas as bases duais da gramática
(masculino-feminino, singular-plural, substantivo-verbo, sujeito do
enunciado-sujeito de enunciação etc). A unidade elementar da linguagem —
o enunciado — é a palavra de ordem. Mais do que o senso comum,
faculdade que centralizaria as informações, é preciso definir uma faculdade
abominável que consiste em emitir, receber e transmitir as palavras de
ordem. A linguagem não é mesmo feita para que se acredite nela, mas para
obedecer e fazer obedecer.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol.2
Nenhum comentário:
Postar um comentário