A PÍLULA
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P. Vivemos em uma sociedade na qual precisamos pensar que os remédios podem resolver tudo?
R. Foi o que nos incentivaram a acreditar. Nos anos cinquenta, foram produzidos avanços médicos incríveis, como os antibióticos. Nos anos sessenta, a sociedade norte-americana começou a achar que havia uma fórmula mágica para curar muitos problemas. Na década de oitenta, foi promovida a ideia de que se uma pessoa estava deprimida, não era pelo contexto de sua vida, mas sim porque ela tinha um distúrbio mental – era uma questão química e havia um remédio que a faria se sentir melhor. O que se promoveu nos Estados Unidos, na realidade, foi uma nova forma de viver, que foi exportada para o resto do mundo. A nova filosofia era: você precisa ser feliz o tempo todo e, se não for, temos uma pílula. Mas o que sabemos é que crescer é difícil, surge todo tipo de emoções e é preciso aprender a organizar o comportamento.
P. Buscamos o conforto e o mundo vai se parecendo com aquele descrito por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo...
R. Desde agora. Perdemos a noção de que o sofrimento faz parte da vida, de que às vezes é muito difícil controlar a própria mente. As emoções que sentimos hoje podem ser muito diferentes daquelas da semana ou do ano seguintes. E nos fizeram ficar alertas o tempo todo em relação a nossas emoções.
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Joseba Elola, El País, entrevista com o jornalista Robert Whitaker, 06/01/2016
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