A psiquiatria biológica: uma bolha especulativa?
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Para Jacques Hochmann, a especificidade do psiquiatra reside no fato de que ele deve confrontar, no cotidiano, três paradoxos. Primeiro, ainda que formado em medicina somática – e esta formação é necessária –, a neurobiologia atual quase não o guia em sua empreitada. Em segundo lugar, ainda que para a medicina somática a fronteira entre o doente e o saudável seja nítida, no paciente psiquiátrico, mesmo o mais louco, há sempre uma parte sã, uma consciência ao menos parcial de sua loucura. Enfim, em terceiro lugar, nas suas decisões terapêuticas, o psiquiatra deve preservar não somente os interesses do paciente, mas também os do seu ambiente e da sociedade. Esta especificidade da psiquiatria justifica sua separação da neurologia e não deveria ser recolocada em questão enquanto o primeiro paradoxo não seja resolvido. Ora, nada anuncia maiores progressos em psiquiatria biológica para os próximos decênios.Defendo, portanto, uma pesquisa em neurociências cuja criatividade não esteja amarrada por objetivos terapêuticos a curto prazo; uma prática psiquiátrica nutrida pela pesquisa clínica e uma desmedicalização do sofrimento psíquico. Parece-me que, mais que os Estados Unidos, os países europeus souberam preservar as competências necessárias a esses dois últimos objetivos. É uma via como esta que deveríamos explorar. (grifos nossos)
François Gonon, in Revue Espirit, 2011
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