A BENÇÃO DE TEMER
O extraordinário acervo da delação da Odebrecht contém provas sobre um caso especialmente grave. Trata-se de uma negociata até agora única no petrolão: propina repartida entre a cúpula do PT e do PMDB em função de um mesmo contrato na Petrobras. Em outubro de 2010, no auge das eleições presidenciais, a Odebrecht assinou um contrato de US$ 848 milhões com a Petrobras, para cuidar da segurança ambiental dos ativos da estatal no exterior. Em agosto de 2013, antes da Lava Jato, uma investigação de ÉPOCA sobre corrupção na Petrobras revelou, entre outros casos, evidências de que a Odebrecht pagara, para fechar o negócio, propina a funcionários da estatal e a políticos do PT e do PMDB.
A reportagem de ÉPOCA provocou investigações dentro da Petrobras, na Polícia Federal e no Ministério Público do Rio de Janeiro. As evidências colhidas pela reportagem ajudaram na condenação de parte dos envolvidos no Rio e, em seguida, em casos da Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba - alguns dos personagens hoje cumprem pena no Paraná. Um deles é o lobista João Augusto Rezende, operador do PMDB da Câmara na Petrobras e principal articulador da negociata.
A delação da Odebrecht revela pontos fundamentais do caso, até então desconhecidos das autoridades. A empresa ofereceu à Procuradoria-Geral da República evidências testemunhais e documentais que comprovam os pagamentos de propina e implicam fortemente políticos poderosos na negociata. Há todo tipo de provas. Elas documentam o caso do começo ao fim.
Há depoimentos dos executivos que tocaram a operação - dois deles afirmam que o presidente Michel Temer, então candidato a vice de Dilma Rousseff, "abençoou", num encontro em São Paulo, a propina ao PMDB e assegurou que a Odebrecht fecharia o contrato. (Temer admite a reunião, mas nega ter discutido propina.) Há extratos bancários de pagamentos de propina em contas secretas no exterior, indicadas por funcionários da Petrobras, pelo PMDB e pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari. Há planilhas internas da empresa com registros de entrega de propina em dinheiro vivo no Brasil, para políticos do PT, como o senador Humberto Costa, e do PMDB, como Eduardo Cunha. Há e-mails, reservas de passagem e hotel que comprovam reuniões clandestinas. Há depoimentos dos funcionários da Odebrecht que cuidavam do pagamento de propina, atestando quem recebia quanto - e em qual endereço.
ÉPOCA analisou todas as provas apresentadas pela Odebrecht e as cruzou com os documentos já obtidos pela reportagem. Dessa investigação, emerge um caso juridicamente sólido e com potencial para provocar sérios estragos políticos ao presidente Temer e a seu grupo político - um grupo, que inclui Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, acusado de receber US$ 40 milhões em propina. Os investigadores da PGR rastrearão os pagamentos de propina a codinomes como "Mestre" e "Tremito", associados ao PMDB, mas cujas identidades ainda são desconhecidas. Rastrearão, também, os beneficiários finais das contas indicadas por Vaccari no exterior. O inquérito correndo Supremo.
Redação Época, 21/04/2017, 14:11 hs
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