O JOGO DA VIDA
Consideramos o futebol um esporte singular. Arrasta multidões, movimenta paixões como nenhum outro esporte. Sem considerar os aspectos extra-esportivos (econômicos, políticos, sociais etc) eis algumas obervações.1-Ele é trágico (intrinsecamente alegre), ou seja, encarna o imprevisível, o inesperado, a surpresa... Daí as famosas zebras e o personagem de Nelson Rodrigues "O Sobrenatural de Almeida". Aos 49 min. do 2º tempo a bola bateu nas duas traves, passou por trás do goleiro e não entrou. Ou a constatação (por vezes, dolorosa) de que nem sempre ganha o melhor. 2- O futebol trabalha basicamente (exceto o goleiro) com os pés, órgão do corpo que não possue a mesma precisão motora das mãos. 3-Algumas de suas regras são imprecisas, de difícil aplicação no tempo da jogada. Dois exemplos: a falta e o impedimento. Jornalistas idiotas passam horas discutindo o penalty que o juiz não marcou num segundo que teve para decidir... 4-Como consequência do ítem anterior, o juiz tende a errar muito, sendo chamado e confundido com o "juiz ladrão"; 5- No entanto, esse personagem ("juiz ladrão") existe de fato, ao ponto de Nélson Rodrigues "defender" a sua "eterna"presença numa partida de futebol. 6- O futebol é plástico, coreográfico, artístico, o que o coloca para além do aprimoramento da técnica e/ou da profissionalização estrita. Romário disse que nunca foi um atleta... 7- Tomando por base as equipes que vencem, afirmamos que ele é basicamente coletivo, ainda que uma jogada individual possa decidir o jogo. É que essa jogada individual necessita de um solo firme para nascer. Este"solo firme" pode ser, por exemplo, um volante que funciona apenas tomando a bola do adversário e passando-a para o "gênio". Quem é mais importante? 8-Numa partida há oscilações de ritmo, produtividade, humor, que contaminam todo o time. Fatores relacionais ( entre companheiros, entre companheiros e adversários, entre o juiz e os jogadores) escapam à observação do torcedor. Isso, claro, acontece em outros esportes, mas no futebol há uma irrupção do novo: " aquela expulsão mudou o rumo do jogo" 9- No contexto anterior,ocorrem"tempos mortos", ou seja, momentos em que nada parece acontecer. A partida se arrasta, se arrasta, quando, de repente... 10- Por fim, tudo que foi dito acima não existiria sem um território coletivo de intensidades móveis: a loucura encarnada na torcida.
A.M.
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