domingo, 16 de abril de 2017

PARA ALÉM  DA FAMÍLIA

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Não se trata de negar a importância vital e amorosa dos pais. Trata-se de saber qual é o seu lugar e a sua função na produção desejante, em vez de fazermos o contrário e assentarmos todo o jogo das máquinas desejantes no restrito código de Édipo. Como se formam lugares e funções que os pais vão ocupar a título de agentes especiais em relação a outros agentes? Pois Édipo só existe, desde o início, aberto aos quatro cantos de um campo social, a um campo de produção diretamente investido pela libido. Parece evidente que os pais sobrevêm à superfície de registro da produção desejante. Mas o problema de Édipo é justamente este: sob a ação de quais forças se fecha a triangulação edipiana? Em que condições esta triangulação canaliza o desejo para uma superfície que não o comportava por si mesma? Como será que ela forma um tipo de inscrição para experiências e maquinações que a transbordam por toda parte? É neste sentido, e somente neste sentido, que a criança reporta o seio como objeto parcial à pessoa da mãe e não para de sondar o rosto materno. “Reportar” não designa aqui uma relação natural produtiva, mas um relato, uma inscrição na inscrição, no Numen. Desde sua mais tenra idade, a criança tem toda uma vida desejante, todo um conjunto de relações não-familiares com os objetos e com as máquinas do desejo, que não se relaciona com os pais do ponto de vista da produção imediata, mas que, com amor ou com ódio, é reportada a eles do ponto de vista do registro do processo, e em condições muito particulares desse registro, mesmo que estas reajam sobre o próprio processo (feedback).
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G. Deleuze e F. Guattari in O anti-édipo

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