segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A MEDICINA CURA? (VI)

A Medicina pode (e deve) ser considerada uma forma social (instituição e não organização) que se inscreve subjetivamente no modo como as pessoas, em geral, enxergam o mundo e a si mesmas. Obviamente, essa instituição, que tantos serviços prestou e presta a humanidade, deve ser respeitada, mas não reverenciada e/ou idolatrada. O conceito de progresso, que alimenta o positivismo científicista, constitui o motor da instituição médica. Ao longo da fabricação da crença única de que a medicina caminha para o topo das soluções dos problemas da humanidade, bem como critalizando a equação medicina=saúde como axioma da felicidade universal, a medicalização da sociedade faz por despolitizar os próprios usuários dos serviços de saúde. Eles se tornam meros consumidores das tecnologias médicas, ante as quais se dobram afetiva e intelectualmente, tal a complexidade crescente dos procedimentos, bem como a experiência-na-carne da ultra-fragmentação do organismo considerado doente. O especialismo autoritário se afirma como destino inelutável. Mas, e o SUS? No país do SUS, as necessidades mais elementares (alimentação, educação, emprego, habitação, segurança) à população serializada pelo abismo entre as classes sociais, são substituídas pela consulta meia-boca, simulacro da relação médico-paciente, esta sim a "essência"da prática médica.


A.M.


Obs.: Texto republicado

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