PIOR COM A INTERNET?
Quando a internet entrou na vida de todos nós – ou na de quem viveu antes dela –, era vista como força libertadora. Vendedores, criadores e artistas se veriam livres da tirania dos intermediários, das imposições corporativas e da pasteurização cultural. A multiplicidade de vozes traria força à democracia, sufocaria o autoritarismo, o chauvinismo, o comunismo e todos os “ismos” dependentes do controle da informação. O mundo ficaria ainda mais globalizado, com um grau de integração entre os povos jamais visto. Um salto incomparável de produtividade traria uma era ininterrupta de prosperidade e crescimento econômico. Pois, mais de duas décadas depois, a realidade demonstra que todas essas promessas foram frustradas. Já passou da hora de reconhecer: ao menos nessas frentes, a internet mudou o mundo para pior.
Na economia, serviu de pretexto para os bancos centrais inflarem duas bolhas, cujos estouros sucessivos lançaram o planeta na maior depressão desde a crise de 1929. Os estudos mais sérios e exaustivos demonstram que a tecnologia digital jamais trouxe – e dificilmente trará – um salto de produtividade comparável ao das revoluções da máquina a vapor, das ferrovias ou da eletricidade. Na política, as redes sociais permitiram o renascimento do nativismo chauvinista, deram voz a toda sorte de idiotice tacanha, retrógrada e pseudocientífica, contribuíram para a polarização e para a ascensão de líderes autoritários à esquerda e à direita. A democracia só recuou no planeta na última década, segundo três rankings globais (Economist Intelligence Unit, Freedom House e Polity Project).
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Helio Gurovitz, Época, 22/10/2017, 10: 00 hs
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