segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ENTRE A PÓS-VERDADE E O TEATRO DO ABSURDO


O Brasil, às vésperas da eleição presidencial de 2018, está vivendo uma mistura explosiva entre a mentira emotiva da pós-verdade, e a obra de teatro do absurdo, materializada na genial peça, “Esperando Godot”, do dramaturgo Samuel Beckett. Na obra do dramaturgo irlandês sabemos que Godot nunca vai chegar e, mesmo assim, todos continuam esperando por ele. O escritor ironiza que a vida é o que está acontecendo e não o que estamos esperando, do contrário, acabaríamos não vivendo a realidade. Ou alguém imagina que em 2018 vai chegar o Godot para redimir o Brasil de todos seus males? Ou que teremos o milagre de contar com um Congresso novo, expurgado dos caciques que dominam hoje, com políticos limpos de corrupção? Ou um Supremo que, finalmente, também colocará os políticos de luxo na prisão, que seja apenas a garantia da Constituição, sem se sujar em obscuros jogos políticos? Ou que dedique seu tempo discutindo se os cigarros podem ter sabor? O tabaco mata, com ou sem sabor. Todos sabem.
Não é pessimismo, é simples observação da realidade.
(...)

Juan Arias, El País, 20/10/2017, 23:03 3hs

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