APRENDER A PENSAR
(...) O Novo não é dado, ele é produção de linhas curvas e incertas. Que se considere o devir-aluno como uma irrupção demoníaca na própria configuração do Encontro. Estamos, pois, muito distantes da máquina binária professor-aluno e muito perto das forças do inconsciente institucional circulando entre as cabeças, entre os papéis e nas relações de poder. Como vimos, o pensamento é uma linha estendida entre a arte, a ciência e a filosofia, sendo nesta última o acontecimento “pensar” aquilo que alarga e faz alargar as dimensões múltiplas do processo de aprendizado. A sala de aula é o mundo com seus aparelhos, com seus dispositivos de domesticação de almas. Mas o devir-aluno é mais que o aluno como pessoa; ele segue os fluxos do aprender antes do ensinar. Não aprender as certezas e as opiniões prontas do homem médio, mas sim algo que muda imperceptível e veloz como o próprio tempo. Captar este “imperceptível” do tempo é tornar-se o tempo irreversível dos atos de ensino que são ao mesmo tempo atos de aprendizado. Rigorosamente, não o Novo como um objeto ou objetivo a ser alcançado, e sim como a própria materialidade do espírito, a consistência da passagem, da “duração”, do tempo que não se vê, mas que se sente. Tornar-se aluno e mestre de si mesmo requer a multiplicação dos eus, o esquecimento da história pessoal, e como diz ainda Castañeda, a parada do diálogo interno. Toda uma bruxaria santa, todo um ritmo da natureza encravado nas falas mais artificiais e incômodas. É um estilo isso de ser não sendo, esse nomadismo no mesmo espaço e ao mesmo tempo já em Júpiter ou Urano, velocidades aceleradas para os seres lentos que somos. O pensamento voa. Um exemplo de aula: enquanto aqui eu falo da esquizofrenia-doença, aí em vocês e sobre vocês o pensamento percorre continentes, cidades, países, amores, e a aura do invisível cobre esse itinerário tão secreto quanto estranho. Esquizofrenizar o pensamento, ele já esquizofrênico por si mesmo, desde que não há nascedouro, só um meio onde tudo começa e flui, é aprender a pensar. Tudo já estava lá, ou aí, ou aqui, e é mudando a natureza das multiplicidades ( o Novo, enfim) que o aprendizado dos signos se faz.
A.M.
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