sábado, 15 de dezembro de 2018

CLÍNICA E TECNOLOGIA DA IMAGEM - III

Numa acepção deleuziana, o acontecimento pode ser definido como um encontro de corpos, humanos e/ou inumanos, no qual e do qual emerge o Sentido. Assim. o sentido nunca é dado, nunca é "um estar lá", mas sim produzido no próprio ato do Encontro. É possível notar que a realidade virtual substituiu a realidade do Encontro (daí, a dos corpos) pela realidade da imagem, profusão de imagens sobre imagens, realidade descarnada, mas Realidade subjetivamente  assimilada como Verdade. Dissemos que a tecnologia da imagem não é um mal em si, mas um signo de poder acelerado a uma velocidade não captada pela Consciência. A velocidade é quem (sujeito) captura a consciência. Um encontro de corpos fica, então, descartado em prol da verdade da imagem, inclusive a imagem de si. Segue-se o empreendimento desejante de um profundo estilhaçamento do eu, beirando a psicose ou nela se instalando. Tempos esquizofrênicos, como previu Guattari. Ora, para uma psiquiatria atravessada por tais fluxos, há duas opções ético-políticas: 1- Encolher-se sob o discurso epistemológico das neurociências, detentor de uma verdade reificada, reificante e erguer o manto acadêmico como anti-autocrítica. 2-Abrir-se, estender-se sobre o campo social em suas formações discursivas caóticas e inventar clínicas à altura do horror dos tempos que correm. Fazer o acontecimento.

A.M.

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