SEM LAMÚRIA
As duas maiores redes de livrarias brasileiras estão em recuperação judicial. O sindicato dos editores, inspirado na certa pelos caminhoneiros, quer tabelar descontos no primeiro ano de publicação. Um editor célebre clama aos amigos, depois de uma onda dolorosa de demissões, que deem livros de presente nas festas de fim de ano. Um grande livreiro se queixa diante do estoque repleto: “Não há mais leitores”. Outro, comedido, veste o boné do personagem de Carangos e motocas para passar um pito nos concorrentes que erraram ao investir sem lastro: “Eu te disse, eu te disse, mas eu te disse…”. O clima no mundo dos livros é de velório e recriminação. Então um amigo que, com atraso de anos, acaba de comprar seu primeiro Kindle me pede dicas de títulos sobre os Estados Unidos. Envio uma lista de 37 que li nos últimos meses. Não vejo televisão, não participo de nenhum grupo de WhatsApp, não tenho Facebook, raramente assisto à Netflix antes de pegar no sono, mais raramente vou ao cinema. Livros são meu mundo. Ler é, para mim, tão vital quanto respirar. Frequento livrarias desde criança. Entendo a dor de quem teme pelo fim delas. Mas não aguento mais tanta lamúria.
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Helio Gurowitz, Época, 21/12/2018, 08:00 hs
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