O AMOR EM RITORNELO
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O último movimento do amor é seu próprio abrir-se, desfazer-se, consumir-se, ultrapassar-se, como diz Camões, “é um cuidar que se ganha em se perder”. Existe toda uma nova relação com a loucura, com os perigos, afinal, não se pode permanecer em um território por muito tempo, não se pode manter o regime de forças que constitui o ritornelo porque seu próprio movimento é tão poderoso que o conduz para uma reabertura para o caos, ou, como Guattari o chamou: caosmos.
Talvez o verdadeiro amor seja aquele feito pra acabar, mas acabar porque diz sim! Talvez o verdadeiro amor seja aquele feito para nos jogar mais longe, pra nos fazer outro, uma catapulta de afetos! Ele muda, se transforma, se abre, se cria e recria. Nós nos abrimos no processo, nos deixamos levar, por confiança, talvez por atrevimento, alguns por familiaridade, outros por intuição.
Não podemos dizer com certeza, cada caso é um caso, mas o importante é dizer sim, mergulhar fundo e alcançar outras superfícies, uma nova suavidade. É preciso aceitar o eterno retorno do amor, que sempre retorna (para aqueles que dizem sim), mas sempre retorna diferente. É possível amar várias vezes a mesma pessoa, mas cada dia de um jeito diferente, quando menos se espera, nós mudamos e tudo ao nosso redor também.
É preciso desterritorializar amores, ele mesmo pede por isso, ele mesmo leva a isso. Este é seu último movimento, seu grand finale. Pode-se redescobrir o mesmo amor, de um jeito diferente, na mesma pessoa ou redescobrir o mesmo amor em outra pessoa. A melodia pode durar semanas ou anos, mas sempre há modulação: começa em Dó, mas pode terminar em Lá sustenido menor! Há tantos acordes de passagem que, mesmo na repetição, toda melodia se diferencia. O importante é aprender a amar em tom maior, sem se perder nos modos frígios, ou frígidos. É necessário encontrar uma cadência luminosa que nos prepare para novos horizontes!
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Extraído do site "Razão Inadequada", visitado hoje.
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