O QUE ESTÁ POR TRÁS DO DISCURSO DE ÓDIO
Lamentavelmente, no panorama europeu de renascimento do neofascismo, a Espanha já não é uma exceção. Ela acaba de ser tingida, quase de surpresa, com as pinceladas da cor obscurantista e xenófoba que estão avançando por toda parte no Velho Continente, a cor da ultradireita. Demonstra-se, mais uma vez, a sagacidade da afirmação do grande Dom Quixote: “Não há memória que o tempo não apague”.
Embora a Espanha tenha no momento apenas um grupo minúsculo, o Vox, ele é parte de uma onda de nacional-populismo neofascista que se espalha pelo mundo todo de maneira traiçoeira. Está se abrindo, sem dúvida, uma nova era de desafios importantes e sérios que as democracias terão de enfrentar, provavelmente durante umas décadas. É inegável que a globalização liberal posta em marcha no final do século passado entrou em uma fase crítica, devido à sua patente e consciente desregulação caótica, responsável por suas contradições atuais. A busca de um novo equilíbrio econômico-social planetário é, portanto, imprescindível. Enfrentar o desafio deste novo período exige imperativamente que as democracias encontrem modelos econômicos e sociais que apostem, de forma efetiva, na eliminação da grande brecha atual da desigualdade, na solidariedade, que são expectativas da imensa maioria da população arraigada na civilização do respeito mútuo e da dignidade. Ao mesmo tempo, no entanto, chama a atenção o aparecimento − como consequência dos efeitos desagregadores da globalização − de camadas sociais reacionárias étnica, cultural e politicamente, que se identificam com um discurso de ódio de experiência remota. Trata-se de uma tendência mundial, cujas características comuns são tão importantes quanto suas diferenças.
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Sami Nair, El País, 08/12/2018, 21:00 hs
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