quinta-feira, 7 de maio de 2020

COVID: AFETOS E CRENÇAS

Em tempos covídicos, a saúde mental é atingida em cheio. Esse fato óbvio nos conduz a buscar uma psicopatologia que se constitua no próprio universo do vírus, não como causa de certa patologia mental ou um sintoma, mas como linha psíquica do sofrimento atual. O universo da pandemia é claramente um universo paranóico. Isso leva a que afetos contagiem (infectem) efeitos de subjetivação sobre cada indivíduo. O medo (tornado crônico) do invisível, o medo do outro, o medo de si mesmo, a suspeita insistente, a desconfiança a priori, a contenção dos corpos, a compulsão com a assepsia, a angústia ( um mal estar indefinido), a obsessão com o pessimismo e a morte, entre outros...  são afetos negativos, destrutivos. Junto com eles, ou misturadas a eles, nos chegam as imagens, mil imagens produtoras de crenças. Informar e comunicar: o objetivo. Elas são veiculadas por tecnologias de ponta onde a mídia, a internet, os celulares e toda a parafernália on line se corporifica como verdade do mundo a se aceitar sem crítica. Assim, as crenças induzem ao medo e o medo induz às crenças. Um círcuito de realimentação discursiva se instaura como subjetividade isolada, ilhada, confinada, apavorada, o que irá nutrir e abastecer depressóes, delírios, alucinações, fobias, ideações suicidas, lacunas de memória, pânicos, auto-mutilações, insônias, apragmatismos sociais, somatizações, conversões e dissociações histéricas... Enfim, fica evidente que a saúde mental não é a saúde do cérebro mas a saúde do mundo social onde o cérebro, sim, está enfiado. Sem remédio.

A.M.

3 comentários:

  1. "a saúde mental não é a saúde do cérebro mas a saúde do mundo social" 👏🏻👏🏻 definição perfeita

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  2. Podemos então afirmar então um vazio a o qual podemos radicalizar chamando, denominado de descrença.

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