EM NOME DA CIÊNCIA
O corpo vivo, sensível aos magnetizadores, charlatães e outros efeitos placebo, cria obstáculo à conduta experimental, que exige a criação de corpos com o poder de dar testemunho da diferença entre as "verdadeiras causas" e as aparências destituídas de interesse. A medicina, que extrai sua legitimidade do modelo teórico-experimental, tende a remeter esse obstáculo àquilo que resiste "ainda", mas que um dia se submeterá. O funcionamento efetivo da medicina, definido por uma rede de restrições administrativas, gestionárias, industriais, profissionais, privilegia sistematicamente o investimento pesado, técnico e farmacêutico, pretenso valor do futuro quando o obstáculo estará dominado. O médico, quer não quer se assemelhar a um charlatão, vive com mal-estar a dimensão taumatúrgica de sua atividade. O paciente, acusado de irracionalidade, intimado a se curar pelas "boas" razões, hesita. Onde, nesse emaranhado de problemas, de interesses, de constrangimentos, de temores, de imagens, está a "objetividade"? O argumento "em nome da ciência" se encontra por toda a parte, mas não pára de mudar de sentido.
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