sexta-feira, 1 de maio de 2020

SEM  CORPO,  SEM  AFETO

A psiquiatria produz o corpo-organismo, tomando-o como base da propedêutica clínica: o que fazer com (do) o paciente ? Este organismo tem uma forma que lhe autentica a “natureza” do humano, algo que interage com o mundo fabricando a chamada subjetividade. A inscrição do mecanicismo no funcionamento do organismo é estabelecida pelas relações entre os sistemas (renal, endócrino, nervoso, cárdio-circulatório, etc) que supostamente “antecedem” a realidade do mundo. Portanto, quando em psiquiatria se fala em desejo é em nome de sentimentos humanos que constituem o “estar vivo”. A equação sentimento=alma=espírito é dada como natural, ultrapassando a animalidade em prol de uma espécie de divinização do humano através da instituição da Consciência. “Só o homem tem uma alma”. Desse modo, o que se chama “organismo” é automaticamente ligado à “consciência” como lugar da verdade. Tal percurso conceitual (invisível, pois está encravado em práticas institucionais) une a ausência de corpo à ausência de desejo. Uma psiquiatria sem corpo e sem desejo. Como isso é possivel?Como isso funciona?

A.M.

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