MEU QUERIDO SUPERMERCADO
Às vezes, entre a água sanitária e os tomates, surge o amor. Dura um instante, uma flechada, exatamente o tempo de que todos os produtos passem pelo caixa. Assim que se enchem as sacolas, é hora da despedida. Então, Danilo de Melo Santos fica mais uma vez sozinho com seus sonhos. E com o próximo cliente. “Pode ser que um comprador nem repare em você, e enquanto isso você está divagando, imaginando uma vida com ele”, confessa diante da câmera o jovem operador de caixa. Embora nem todos os idílios terminem com um cupom fiscal e um “até logo”. Acontece que, além de carne e legumes, um supermercado está cheio de surpresas. Como a própria vida. “É claro que já saí com algum cliente, é normal. Acontece, você troca um olhar, um elogio, dá o telefone...”, acrescenta Santos. Sabe-se lá quantos romances já nasceram de uma compra. E não só isso: entre os infinitos corredores, escondem-se debates de filosofia e religião, crônicas íntimas de dor e esperança. Estão lá, embora quem tem olhos só para os biscoitos, as azeitonas ou o desodorante nunca repare neles. A diretora brasileira Tali Yankelevich fez isso. E filmou: seu primeiro longa, Meu Querido Supermercado, foi exibido por streaming no último sábado no festival Visions du Réel.
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Tommaso Koch, El País, Madri, 05/03/2020, 20:16 hs
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