sábado, 10 de dezembro de 2011

CONCEITO DE ENCONTRO


Podemos  chamar   de    “dobras”  subjetivas   as  ligações    entre   as  linhas  do  encontro.  Torná-las viáveis,  atualizá-las,   enfim, no campo da clínica   é   produzir  dobras, estendê-las,  distendê-las.   Isso  significa  criar   linhas   vivenciais   práticas.  Podemos  então  “dividir”  o Encontro em  5    linhas  que  se  misturam  e  se  materializam na  relação  técnico-paciente ao tempo  em que    a questão  se  coloca :  -  o  que  fazer?  o coletivo, o  socius,  a     ética,  a  estética e  a técnica são  referências,  linhas misturadas.  O coletivo é  a linha  das  multiplicidades.  Ele   tem  o delírio  como matriz  da  experiência  de  dissolução  do  sentido. Não  há  sentido  prévio, mas  apenas  o elemento  da repetição, a multiplicidade, o real  em si  mesmo .É  o  mundo  virtual que   possui  uma realidade própria.     Sua  tendência  é  atualizar-se  em ações  concretas que  resultam na  construção  de uma  clínica  do encontro e não  de  uma  clínica  do exame. É que  a  clínica  do  exame  já  vem pronta  nos  manuais  de propedêutica  médica. Por  outro lado,  é  preciso  dizer  que  a linha do  coletivo  recolhe   das  matérias  não  formadas    o  combustível   necessário à  inserção numa  dada realidade, o socius. O desejo  é  o  combustível   e  ao  mesmo  tempo  a   máquina  que  utiliza  esse  combustível. O socius,  de  cujas  regras   e  códigos    emanam   os   princípios   para  o exame  do  paciente  (a  formação   do  médico, a  deontologia  ,  etc...),  se  materializa no corpo  das  instituições,  formando   linhas que  se  cruzam. São  relações entre  forças      naquilo  que M. Foucault  chama   “poder”. Assim, falar  em   socius  é  falar  numa  política   sem  sujeito,   não   explícita,   nem  por  isso  menos  atuante e  concreta.  O Encontro  é uma política. Ele não  se   dirige  ao paciente  como  ser  individual   e  empírico,  mas   como  processo  subjetivo inserido  na  trama das instituições. Essa  trama   é a mesma da  qual   faz parte   o técnico   que  vai ao   paciente. Não se  trata  de   refletir  sobre  o  papel  político  do  profissional, mas  de tornar as relações de forças a  própria consistência  dessa “etapa”  do  encontro. Outrossim,   não se trata  de  fazer  política   fora  do contexto  da  política  (e  qual seria esse  contexto?  o  dos  partidos?  o  do estado? o  dos  sindicatos?) mas  de  fazer da  política algo   intrínseco  ao viver  humano. Por  fim, não    chamar    de  “política”  o que  já  não  é  político  mas  agir   politicamente  em estratégias  embutidas. Fazer    escolhas  do  tipo:  a quem serve  esse  encontro? Para  que  serve?  A  quem interessa? O  socius,   “grávido”  da política dos corpos,   nos  remeterá   à  ética. O roteiro  se   tece  em linhas de potência  (ou  de   não  potência)  de  existir,   fazer,  criar,  produzir  o  novo.  A psiquiatria  tem  respostas  epistemologicamente  frágeis  quando se trata de buscar   a origem  das  doenças.  Contudo, suas  práticas    são cada  vez    mais      técnicas  finas   de  imobilização    do  movimento,  se   chamarmos assim  o    paciente, ainda  que o organize  em formas  de  adequação  social. Não importa. Estamos  desdobrando      uma linha (a  do Encontro) que  sai  dos   códigos   estabelecidos  e cria  seus  próprios   códigos  e  territórios   existenciais. A ética se  faz presente na medida  em  que as  situações  se  multiplicam  em nuances  novas. A clínica  do  Mesmo  atende às necessidades  de   manutenção da  ética  do  capital e  do  status  da  medicina.  Ela  valoriza o consumo  das subjetividades em  fila  disponíveis  para o  mercado.  São   mercadorias  avariadas, muitas  vezes  para  sempre.  (o  doente  crônico).  Para  recuperá-las o mecanicismo  se  faz presente.  Nada  mais longe  de  um   bom encontro. Por extensão,  a  dimensão  ética  costuma  ficar  encoberta por  um    funcionamento institucional    naturalizado.  A  concepção  de doente mental, psicótico, etc, é o que se  apresenta como  demanda produzida ao lado  da  ética  egressa  de   um    humanismo esgotado. Isso  é    o “normal”   que sustenta as  práticas clínicas  da  psiquiatria e  das  demais, suas  congêneres. Por  fim, onde  andará, após  tantas  vicissitudes, a  estética, ou  mais  precisamente, a  arte?  (...)

Antonio Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário