CONCEITO DE ENCONTRO
Podemos chamar de “dobras” subjetivas as ligações entre as linhas do encontro. Torná-las viáveis, atualizá-las, enfim, no campo da clínica é produzir dobras, estendê-las, distendê-las. Isso significa criar linhas vivenciais práticas. Podemos então “dividir” o Encontro em 5 linhas que se misturam e se materializam na relação técnico-paciente ao tempo em que a questão se coloca : - o que fazer? o coletivo, o socius, a ética, a estética e a técnica são referências, linhas misturadas. O coletivo é a linha das multiplicidades. Ele tem o delírio como matriz da experiência de dissolução do sentido. Não há sentido prévio, mas apenas o elemento da repetição, a multiplicidade, o real em si mesmo .É o mundo virtual que possui uma realidade própria. Sua tendência é atualizar-se em ações concretas que resultam na construção de uma clínica do encontro e não de uma clínica do exame. É que a clínica do exame já vem pronta nos manuais de propedêutica médica. Por outro lado, é preciso dizer que a linha do coletivo recolhe das matérias não formadas o combustível necessário à inserção numa dada realidade, o socius. O desejo é o combustível e ao mesmo tempo a máquina que utiliza esse combustível. O socius, de cujas regras e códigos emanam os princípios para o exame do paciente (a formação do médico, a deontologia , etc...), se materializa no corpo das instituições, formando linhas que se cruzam. São relações entre forças naquilo que M. Foucault chama “poder”. Assim, falar em socius é falar numa política sem sujeito, não explícita, nem por isso menos atuante e concreta. O Encontro é uma política. Ele não se dirige ao paciente como ser individual e empírico, mas como processo subjetivo inserido na trama das instituições. Essa trama é a mesma da qual faz parte o técnico que vai ao paciente. Não se trata de refletir sobre o papel político do profissional, mas de tornar as relações de forças a própria consistência dessa “etapa” do encontro. Outrossim, não se trata de fazer política fora do contexto da política (e qual seria esse contexto? o dos partidos? o do estado? o dos sindicatos?) mas de fazer da política algo intrínseco ao viver humano. Por fim, não chamar de “política” o que já não é político mas agir politicamente em estratégias embutidas. Fazer escolhas do tipo: a quem serve esse encontro? Para que serve? A quem interessa? O socius, “grávido” da política dos corpos, nos remeterá à ética. O roteiro se tece em linhas de potência (ou de não potência) de existir, fazer, criar, produzir o novo. A psiquiatria tem respostas epistemologicamente frágeis quando se trata de buscar a origem das doenças. Contudo, suas práticas são cada vez mais técnicas finas de imobilização do movimento, se chamarmos assim o paciente, ainda que o organize em formas de adequação social. Não importa. Estamos desdobrando uma linha (a do Encontro) que sai dos códigos estabelecidos e cria seus próprios códigos e territórios existenciais. A ética se faz presente na medida em que as situações se multiplicam em nuances novas. A clínica do Mesmo atende às necessidades de manutenção da ética do capital e do status da medicina. Ela valoriza o consumo das subjetividades em fila disponíveis para o mercado. São mercadorias avariadas, muitas vezes para sempre. (o doente crônico). Para recuperá-las o mecanicismo se faz presente. Nada mais longe de um bom encontro. Por extensão, a dimensão ética costuma ficar encoberta por um funcionamento institucional naturalizado. A concepção de doente mental, psicótico, etc, é o que se apresenta como demanda produzida ao lado da ética egressa de um humanismo esgotado. Isso é o “normal” que sustenta as práticas clínicas da psiquiatria e das demais, suas congêneres. Por fim, onde andará, após tantas vicissitudes, a estética, ou mais precisamente, a arte? (...)
Antonio Moura
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