sábado, 31 de dezembro de 2011

Minorias

                                                   
                                                                 Antonio  Moura




A  Hora  se  aproxima   com   hálito forte.    De  pé,   ante as  correntes,  o  rio  não  volta. Fale    para  ela, a Hora,      que  os  signos batem     à  porta.   Quanto aos meus limites,   não são mais. Estou  solto. Ouvi  conversas  à  beira  do  cais. O abismo   aprofundou  casas  de pau  à pique.  Escutei   um   coro de metais.  Entrementes,    putas  rasgaram   a  noite. Avisei  aos neurônios:   andem   em matilhas.  Nem ligaram.  Por  isso,   as  ordens acabaram   saindo   do  útero da  terra.   Ah!    De  novo?  Vítimas      choram  os horrores  do capital. O capital é o tal.    Abriram  a boca,  roçaram  a língua nos  lábios de  uma    câmera de  TV. E  desceram  mais e mais     na busca  dos  prazeres  curvos. Mas  tudo  mudou.  Um  óleo branco  esparramou-se pela   calçada. Bruxas  no pedaço.  Boa  noite, lua, pode  entrar. Lhe conto as desventuras dos  rebanhos humanos. Me  redimi.  Já que  chegaste, menina, encolha os    ombros  sobre a fronte-gelo. Me  seduza. Você é   o rosto e  o andar  esgueirado   das  mulheres do pântano.  Fragmentos do sexo,  um santo  remédio. Meu negócio é, pois,    escutar quem não  me escuta.   Por  isso   escolhi  como  líder    a convicção  do ínfimo.  O  jeito   dos sem jeito. Hoje já   nem sei  dizer  quem  eu   era . Alguém exibiu    a cédula  de identidade.    Fui   aceito?    A hora se  afinou  num  segundo de brincadeira.   Jogou  com as  estações do  corpo. Afinal,   minorias   chegam sempre  alegres.   Como não ser decepcionante para  a  maioria?   Tempere   a  gosma   da  saliva ácida.  Misture os  nomes pérfidos. Diga  que  os  ama. Penetre os  dogmas da   interioridade  mais preciosa. Finja que  está nas esporas dos cavalos   selvagens.  Só  para  assustar os néscios, dirija  para  a  amada  tudo que  você  sempre  sonhou. A condição  é  a de  que  não exista  amada, mas  amadas.  Vista-se  de  você  mesmo,  contanto que  seja  você    o primeiro  a se  despir. Saia de   si. Vá para  outros  cantos, entoe  cantigas de parto prematuro no meio da mata.  Jogue  a   metáfora  no lixo da linguagem douta. Isso basta. 

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