domingo, 18 de dezembro de 2011

DEVIR-PENSAMENTO (continuação)

Consideremos a psicopatologia com  os seus  sintomas+sinais =diagnóstico, ao jeito da psiquiatria.  Mesmo  tal    enunciado corresponde  a  uma  multiplicidade. O paciente é  composto por  linhas singulares misturadas às  linhas diagnósticas. A vivência  de cada  uma delas corresponde  aos  devires em curso ou a serem desencadeados. A multiplicidade-paciente compõe-se com outras,  inclusive a multiplicidade-médico-que-o-atende ou o  psicoterapeuta, etc. Ligá-la  a outras  multiplicidades  implica  em    considerar  o Encontro no próprio  seio  dessa realidade. Sem o encontro não há multiplicidade, ou  o inverso. Os  devires  são   relações singulares  com  as pessoas, os  objetos, o mundo. A  rigor, eles  não  são  mas  tornam-se, esta a própria  definição do verbo. No caso do devir-pensamento, muda   a concepção de cérebro, muda a prática  clínica. Não estamos mais  diante  de um  cérebro-objeto   à espera  da  fabricação de imagens  que  irão representá-lo num  écran, e sim de um cérebro-espírito, marcado  por  linhas existenciais   incertas  a serem exploradas. Um paciente com um quadro orgânico típico, como  nas  demências, pode  ser trabalhado a partir  das   ligações que ele  estabelece e  produz.  Os  devires  são processos nos quais   o desejo  engata em algo, mesmo que seja  a coisa mais insignificante do mundo.  O conceito de multiplicidade  permite ultrapassar  a linha de fronteira  entre  o orgânico e o não  orgânico  e  desse modo mobilizar forças de auto-movimento.  Devir-pensamento, devir-cérebro, devir-mundo (...)

Antonio Moura

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