DEVIR-PENSAMENTO (continuação)
Consideremos a psicopatologia com os seus sintomas+sinais =diagnóstico, ao jeito da psiquiatria. Mesmo tal enunciado corresponde a uma multiplicidade. O paciente é composto por linhas singulares misturadas às linhas diagnósticas. A vivência de cada uma delas corresponde aos devires em curso ou a serem desencadeados. A multiplicidade-paciente compõe-se com outras, inclusive a multiplicidade-médico-que-o-atende ou o psicoterapeuta, etc. Ligá-la a outras multiplicidades implica em considerar o Encontro no próprio seio dessa realidade. Sem o encontro não há multiplicidade, ou o inverso. Os devires são relações singulares com as pessoas, os objetos, o mundo. A rigor, eles não são mas tornam-se, esta a própria definição do verbo. No caso do devir-pensamento, muda a concepção de cérebro, muda a prática clínica. Não estamos mais diante de um cérebro-objeto à espera da fabricação de imagens que irão representá-lo num écran, e sim de um cérebro-espírito, marcado por linhas existenciais incertas a serem exploradas. Um paciente com um quadro orgânico típico, como nas demências, pode ser trabalhado a partir das ligações que ele estabelece e produz. Os devires são processos nos quais o desejo engata em algo, mesmo que seja a coisa mais insignificante do mundo. O conceito de multiplicidade permite ultrapassar a linha de fronteira entre o orgânico e o não orgânico e desse modo mobilizar forças de auto-movimento. Devir-pensamento, devir-cérebro, devir-mundo (...)
Antonio Moura
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